quarta-feira, 30 de abril de 2008

Maps and Nextcity: the Art of possible


No quadro dos encontros New Silent Series, promovido pelo Rhizome, vídeo da conferência de Eric Rodenbeck, diretor do Stamen Design, em que ele trata de mapeamento, visualização de dados e espaço urbano. A conferência integrou o painel intitulado Nextcity: The Art of the Possible e a dica é do we make money not art. Outros vídeos do encontro estão on-line. O próximo New Silent será sobre Blank Spots on a Map: State Secrecy and the Limits of the Visible, no dia 09 de maio, sempre no New Museum of Contemporary Art.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Camuflagem e in-visibilidade urbana

Filando dos queridos Paola e Cezar: o trabalho de camuflagem e in-visibilidade urbana da artista Desiree Palmen. As imagens abaixo são da série Streetwise (Street surveillance camera project).


Streetwise
Street surveillance camera project
(photos Desiree Palmen thanks to Risk Hazekamp,
model Marleen van Wijngaarden and CBK Rotterdam)

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Pulseiras eletrônicas para presos em SP

Conforme a sanção da Lei Estadual nº 12.906/07, que entrou em vigor na semana passada para o Estado de São Paulo, será possível utilizar pulseiras e tornozeleiras com sensores eletrônicos para monitoramento de presos que cumprem pena em regime semi-aberto e aberto. A informação vem da revista jurídica Última Instância.

Central de vigilância em favela


Estou realizando um projeto de mapeamento de câmeras de vigilância nos espaços públicos da cidade do Rio de Janeiro e uma das minhas limitações é o acesso aos espaços das favelas. Sempre imaginei, contudo, que deveria haver sistemas de monitoramento por câmeras controlados não pelo Estado, mas pelo chamado "crime organizado". Matéria da Folha on-line (grata, Cezar!) reporta a descoberta de uma central de monitoramento com 9 televisores ligados a aproximadamente 20 câmeras instaladas pela favela Zorrilho, na zona leste de São Paulo. A ação da polícia provavelmente estava sendo monitorada e ela naturalmente encontrou a central de monitoramento vazia, além de armas e drogas.
O jogo de forças, de vigilância e contra-vigilância, é aí complexo e difícil de ser pensado, requerendo tempo maior do que a escrita apressada desse blog permite. Entre muitos elementos importantes a pensar, e para além das intenções de defesa e controle do território, é interessante atentar para essa forma de a favela produzir imagens sobre si mesma, sem passar diretamente pelas mediações tradicionais do artista, do jornalista, do cineasta, do pesquisador ou do agente social.

sábado, 26 de abril de 2008

Scanner de face em aeroportos britânicos


Biometria começa a integrar o cotidiano na Inglaterra. A partir do meio desse ano, os aeroportos britâncos usarão scanner de face no lugar de checagem de identidade para identificação de passageiros que possuem passaporte europeu (Obrigada, Adriana!). Conforme matéria da BBC, alguns aeroportos já usam scanner de iris para viajantes frequentes, mas esse sistema é condicionado ao cadastramento voluntário do passageiro. A matéria ainda aponta críticas às falhas técnicas desse sistema de identificação, mas, repito, o problema da incorporação desses dispositivos biométricos ao controle da mobilidade, dos acessos e da identidade não é de ordem técnica mas social, ética e política. Na Inglaterra, o grupo NO2ID combate a formação de bancos de dados biométricos estatais. Alguns posts recentes sobre biometria:
http://dispositivodevisibilidade.blogspot.com/2008/03/vdeo-vigilncia-bicicletas-e-malas.html;
http://dispositivodevisibilidade.blogspot.com/2008/03/diagnsticos-visuais-e-microfsica-do.html;
http://dispositivodevisibilidade.blogspot.com/2008/03/diagnsticos-visuais-e-microfsica-do_21.html
http://dispositivodevisibilidade.blogspot.com/2008/04/cmeras-humor-e-biometria.html

Google Space no Aeroporto Heathrow, Londres

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Surveillance Manhatan


Matéria da Wired mostra o novo aparato de vigilância que integra a política anti-terrorismo em Manhatan, Nova Iorque. Trecho:
"We climb in behind the pilot and find ourselves facing a console with three screens: One shows a map of the city; another, an interface for checking license plates and addresses; and the third, the view from a gyro-stabilized L-3 Wescam camera attached to the chopper's nose. The camera can see clear across the city, in both the visible and the infrared slices of the spectrum; then it can broadcast the images to police headquarters using an onboard microwave transmitter."

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Gadgets - GPS track defense e CCCTV scanner


Um de meus passatempos na Internet é clicar nos links de gadgets de vigilância e contra-vigilância que o meu Google Alerts sugere. Hoje, dois entraram na minha lista de compras ;-): um GPS tracker defense, que bloqueia o rastreamento do GPS num raio de 5 metros, impedindo a identificação da sua localização. Pelo que entendi, só serve para carros, pois é carregado no isqueiro dos automóveis.

O outro gadget é um Portable CCTV Camera Scanner, que permite descobrir, visualizar e gravar transmissões de sistemas de CCTV wireless e de spy cameras. Na descrição do site: "To be used in conjunction with your own portable video camera with video input (video camera not included, input to be as per yellow/white jacks in picture) for the viewing and recording. Powered by a 9 volt PP3 battery (not included), you can switch between all four popular wireless camera channels to see any transmissions within range (typically 50 to 70 metres)."


Claro que na mesma empresa que vende esses aparelhos anti-vigilância - a inglesa Trackershack - há uma oferta ainda mais variada de aparelhos de vigilância e espionagem visual, sonora, computacional etc. Um dos mais divertidos é o Potpourri Basket GSM Bug.

Estágios da vídeo-vigilância no Brasil

Acabo de ler o artigo de Marta Mourão Kanashiro - Surveillance Cameras in Brazil: exclusion, mobility regulation, and the new meanings of security - publicado recentemente na Surveillance & Society.

O artigo vem, felizmente, contribuir para a ainda raríssima literatura sobre o tema no Brasil. Não vou fazer uma apresentação do texto, mas apenas pontuar alguns dados para reflexão. Em sua análise de propostas de leis sobre câmeras de vigilância no Brasil e de dados sobre a indústria da segurança, a autora propõe três estágios da trajetória da vídeo-vígilância.

  • 1982-1995: “Cameras as a suggestion”
  • 1995-2003: Reconfiguration period, “Cameras as an obligation”
  • 2003-2005: Second reconfiguration, “Cameras for survival and for international commerce

Segundo a autora, no primeiro estágio (1882-1995), há poucas propostas de lei sobre câmeras de segurança e estas são destinadas sobretudo à segurança privada, especialmente em bancos e instituições financeiras. No segundo estágio (1995-2003), as propostas de lei aumentam em número e especificidade, havendo propostas de tornar obrigatório o uso de câmeras em bancos e em alguns espaços de circulação pública, como hospitais, shopping centers, estádios de futebol etc. Nesse mesmo período, há uma imensa expansão da indústria de segurança privada e particularmente dos sistemas eletrônicos de segurança, aí incluída a vídeo-vigilância. O uso de câmeras passa a ser justificado pelos altos índices de criminalidade, pela ineficiência do Estado em garantir a segurança e pelo aumento da sensação de medo nas cidades. Vale notar que esta expansão do uso de câmeras se dá em grande parte no âmbito da segurança privada. Outro dado importante é a escassez de projetos de lei que regulem ou controlem o uso de câmeras, prevalecendo a demanda pela obrigatoriedade. Por fim, no terceiro estágio esta demanda legal por obrigatoriedade se estende ao comércio internacional, à segurança pessoal e à sobrevivência. A presença do Estado nessa demanda se torna mais forte, ressoando as políticas de segurança pós-11 de setembro.

Essa trajetória descrita pela autora de algum modo reflete o que diversas pesquisas mostram em outros países, onde a vídeo-vigilância se inicia no setor privado, depois ganha o espaço público e atualmente se encaminha para a ubiqüidade. Assim é na Inglaterra, por exemplo. No entanto, vale ressaltar algumas particularidades nacionais. Diferentemente da Inglaterra e de outros países europeus, em que a primeira expansão da vídeo-vigilância se dá em seu estágio público e é coordenada pelo Estado, no Brasil ela se passa antes no âmbito privado e se justifica pela ineficiência do Estado em prover segurança. Curioso ainda notar que muitas câmeras privadas, colocadas em prédios e condomínios residenciais, por exemplo, estão voltadas para as ruas e "vigiam" o espaço público, mas apenas para proteger os espaços privados. Além disso, é bastante recente no Brasil a incorporação da vídeo-vigilância nas políticas públicas de segurança e, ainda que elas se alinhem a uma retórica securitária global, nossa cultura da violência e da insegurança é bastante específica e complexa, merecendo estudos particulares.

Uma outra particularidade nacional é a grande quantidade de câmeras de vigilância adquiridas ilegalmente, tornando impossível dimensionar a extensão da vídeo-vigilância no país. Tanto os dados públicos quanto os fornecidos pelas empresas de segurança são insuficientes, dada a significativa quantidade de empresas clandestinas e de aquisições ilegais.

No estudo de caso sobre câmeras de vigilância no Parque da Luz em São Paulo, a autora chama atenção para o fato de a câmera aí controlar sobretudo a mobilidade e não tanto a visibilidade: "...
this is the case because cameras, in relation to urban gentrification or the enrichment of the city center, play the role of making the city a safer place for a specific part of the population.
The camera has to inhibit the permanence or the circulation of specific groups in favor of others, thus
promoting the regulation of mobility and the disappearance of conflict."
Sem dúvida, a regulação do acesso, da circulação e da mobilidade é um elemento central na vídeo-vigilância e no campo mais amplo da vigilância contemporânea. No entanto, se em alguns dispositivos, como na vigilância digital ou de dados (dataveillance), a questão da visibilidade perde relevância, na vídeo-vigilância, em especial, o controle da mobilidade vai de par com uma reordenação das táticas de visibilidade, que se transformam, mas não se tornam secundárias. Ainda que a visibilidade não opere mais como uma armadilha individualizante nos moldes disciplinares, como aponta a autora, ela ainda é um elemento central na retórica da vigilância/segurança, na efetividade do dispositivo câmera e no tipo de "prova" e registro visual que ele gera. Volto a isso num futuro próximo ;-)

terça-feira, 22 de abril de 2008

Mapa, crime e vigilância colaborativa


Seguindo a tendência dos mapas colaborativos de crime, professor da Universidade Federal do Ceará cria o wikicrimes.org, que permite aos indivíduos registrarem e/ou se informarem sobre a ocorrência de crimes no Brasil e no mundo. Assim como o assustador familywatchdog, o chicagocrime.org, o oakland crimespotting, entre muitos outros, esse gênero de mapa propõe uma associação, no mínimo questionável, entre cidadania e vigilância, passando pelo impulso colaborativo. Além disso, fomenta a idéia de que todos estarão mais seguros ao serem informados sobre os locais mais perigosos das cidades, enquanto se sabe que, ao mesmo tempo, há toda uma cultura do medo e da insegurança que aí prolifera.

domingo, 20 de abril de 2008

Sousveillance Culture Conference

Para quem está em Nova Iorque, acontece no dia 26 de abril, na Galeria The Change You Want to See, uma série de apresentações e conferências de teorias e práticas artísticas de "sousveillance" (termo que designa, de forma geral, táticas de contra-vigilância). Marisa Olson (Rhizome) modera os quatro painéis que compõem programa. Detalhes abaixo (via networked performance):

Sousveillance Culture Conference
:: April 26, 2008; 12 - 5 pm :: The Change You Want to See Gallery, 84 Havemeyer @ Metropolitan, Brooklyn, NY.

Program:

11:45 Open Seating
12:00 Welcome & Introduction, Marisa Olson

12:05-1:15 Voyeurism vs. Exhibitionism: Online and In the Streets
Panelists: Allistar Peters and Meng Li, Ana Maria Gutierrez, Heather Rasley

1:15-2:00 Watchful Intervening: From Scientologists to Spy Shops
Panelists: Amanda Bernsohn and Kacie Kinzer, Syed Salahuddin

2-3:30 Playtime: Games, Toys, and Entertainment
Panelists: Oscar Torres, Scott Hoffer, Shlomit Lehavi and Leah Gilliam

3:30-5 Looking at Control: From Candidate Self-Surveillance to Wireless Subversion
Panelists: Michael Clemow and Tom Jenkins, Alberto Tafoya, Emery Martin

The Change You Want To See is the gallery and convergence stage run by the activist arts collective Not An Alternative

Graffiti contra-vigilância: Bansky

O artista Bansky, conhecido por seus "stencil graffitis", em uma de suas obras mais interessantes, realizada sob o olhar de uma câmera de vigilância no centro de Londres.

sábado, 19 de abril de 2008

Enquete sobre vídeo-vigilância na França

Uma pesquisa encomendada pela CNIL aponta que 71% dos franceses são favoráveis à vídeo-vigilância em espaços públicos e vêem aí um meio eficaz de combate ao terrorismo e à delinquência. A pesquisa também mostra que a mesma maioria é simultaneamente concernida com os atentados à privacidade e à liberdade individual, assim como são favoráveis ao controle dos sistemas de vídeo-vigilância por um órgão independente, no caso o CNIL (Commission nationale de l'informatique et des libertés). Curiosamente, os resultados da pesquisa satisfazem tanto ao governo francês (que pretende triplicar a vídeo-vigilância em espaços públicos nos próximos 10 anos), quanto a CNIL, que milita pelo controle independente dos dispositivos de vídeo-vigilância e por sua regulação jurídica. Lamentável notar, ainda, como a discussão polariza vídeo-vigilância e vida privada, como se essa fosse a única liberdade e a única forma de vida ameaçada, ou mesmo a única vida que é preciso preservar. A exclusão da dimensão pública e política é ainda mais sintomática quando o que está em questão é a vídeo-vigilância em espaços públicos.
A foto abaixo é de uma "manif" contra vídeo-vigilância em 2005; do "sourriez, vous êtes filmés"

Oficinas do NUCC/UFRJ - Cérebros criminosos?

A partir do mês de abril, o Núcleo de Pesquisas em Cognição e Coletivos/NUCC (Instituto de Psicologia/UFRJ), do qual faço parte, realizará mensalmente oficinas para discussão de temas contemporâneos. Nesse mês de abril, a oficina coloca a pergunta "Cérebros criminosos?" para provocar uma discussão sobre a ética e a política nas pesquisas que buscam bases neurais para a explicação de comportamentos 'desviantes'. Uma das motivações para a escolha do tema desse mês foi a divulgação de uma intenção de uma pesquisa mo Brasil, anunciada por neurocientistas do Rio Grande do Sul, visando mapear e estudar o cérebro de 50 voluntários jovens da antiga Febem de Porto Alegre. Abaixo, as informaçõessobre a ificina desse mês:

OFICINAS DO NUCC
Tema: Cérebros criminosos?
Dia 30 de abril de 2008
Horário - das 13:00 às 15:00 h
Local: Sala 2 do Instituto de Psicologia/UFRJ
Obs - as oficinas são abertas ao público e acontecem sempre na última quarta do mês, das 13 às 15 horas.

terça-feira, 15 de abril de 2008

O cérebro decide


Sem muito procurar, a cada dia me deparo com uma nova técnica de previsão e antecipação, nos mais diversos domínios. Também são inúmeras as "boas novas" da neurociência no campo das técnicas de visualização do cérebro e suas funções. Uma pesquisa publicada recentemente na "Nature Neuroscience" (via Wired) reúne esses dois campos e propõe que o nosso cérebro toma decisões cerca de 7 segundos antes de estarmos conscientes destas. Noutros termos, segundo a pesquisa, no plano de tarefas simples, não é a consciência que decide, mas sim o cérebro. Ou ainda, as decisões conscientes são efeitos de decisões já tomadas pelo cérebro. E graças aos atuais "brain scanners", é possível prever decisões que serão tomadas por um sujeito antes que ele esteja consciente delas.

No período em que estudava mais seriamente os novos modelos de mente/cérebro formulados pela neurociência, costumava ver com interesse e certa satisfação os golpes na consciência e no idealismo que esses modelos materialistas efetuavam. Via em alguns deles, principalmente naqueles que derivam do neo-conexionismo (representados por autores como Edelman, Varela, entre outros) uma possibilidade de pensar o cérebro e reinseri-lo na história do pensamento sem cair no reducionismo biológico.

No entanto, alguns desdobramentos e apropriações dessas pesquisas colocam problemas éticos sérios. Um desses desdobramentos consiste em destituir a consciência, o desejo e as falas dos sujeitos pela suposição de que é mais acurado "auscultar" e visualizar "diretamente" o cérebro. Do neuromarketing às terapias cognitivo-comportamentais e a certos usos de psicotrópicos, tende-se a supor que o cérebro (e, claro, os cientistas que o conhecem) fornecem uma evidência irrefutável sobre os desejos, escolhas e afetos humanos, tornando desnecessário considerar o que pensam e dizem os sujeitos implicados nesses mesmos desejos, escolhas e afetos. Ressoa em minha memória um slogan do neuromarketing: "não é preciso que você nos diga o que deseja, pois o seu cérebro o diz melhor que você".

Celulares, comportamento e wireless power


Ainda na lista top 10 das tecnologias emergentes em 2008 (Technology Review-MIT), o Reality Mining é um programa que reúne data mining e monitoramento de dados e ações através de telefone celular para extrair padrões de comportamento e estilo de vida para: "ajudar você a viver sua vida" (!). Trata-se de um "personal reality mining". O resumo do invento abaixo:
"Who: Sandy Pentland, MIT
Definition: Personal reality mining infers human relationships and behavior by applying data-mining algorithms to information collected by cell-phone sensors that can measure location, physical activity, and more.
Impact: Models generated by analyzing data from both individuals and groups could enable automated security settings, smart personal assistants, and monitoring of personal and community health.
Context: Cell phones are now sophisticated enough to collect and analyze data on personal behavior, and researchers are developing techniques that allow them to effectively sort through such information."

Ressalto por fim um terceiro item da mesma lista: wireless power technology, dispositivo que ambiciona transmitir força elétrica sem fio. Resumo:
"Who: Marin Soljacic, MIT
Definition: Wireless power technology transmits electricity to devices without the use of cables.
Impact: Any low-power device, such as a cell phone, iPod, or laptop, could recharge automatically simply by coming within range of a wireless power source, eliminating the need for multiple cables—and perhaps, eventually, for batteries.
Context: Eliminating the power cord would make today’s ubiquitous portable electronics truly wireless. A number of researchers and startups are making headway in this growing field."

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Modeling Surprise


A Technology Review/MIT elencou 10 tecnologias "emergentes" em 2008. Uma das mais inquietantes é uma espécie de simulador de surpresas (Surprise Modeling), que combina mineração de dados (data mining) e máquinas inteligentes com capacidade de aprendizagem, visando modelizar surpresas futuras e auxiliar indivíduos a tomarem decisões nos campos da medicina preventiva, da política, do mercado financeiro, da segurança e da estratégia militar, entre outros. Já há um protótipo sendo usado para antecipar e auxiliar a gestão de surpresas no trânsito de Seattle. Eis como funciona:
"But how? To monitor surprises effectively, says Horvitz, the machine has to have both knowledge--a good cognitive model of what humans find surprising--and foresight: some way to predict a surprising event in time for the user to do something about it.
Horvitz's group began with several years of data on the dynamics and status of traffic all through Seattle and added information about anything that could affect such patterns: accidents, weather, holidays, sporting events, even visits by high-profile officials. Then, he says, for dozens of sections of a given road, "we divided the day into 15-minute segments and used the data to compute a probability distribution for the traffic in each situation."
That distribution provided a pretty good model of what knowledgeable drivers expect from the region's traffic, he says. "So then we went back through the data looking for things that people wouldn't expect--the places where the data shows a significant deviation from the averaged model." The result was a large database of surprising traffic fluctuations.
Once the researchers spotted a statistical anomaly, they backtracked 30 minutes, to where the traffic seemed to be moving as expected, and ran machine-­learning algorithms to find subtleties in the pattern that would allow them to predict the surprise. The algorithms are based on ­Bayesian modeling techniques, which calculate the probability, based on prior experience, that something will happen and allow researchers to subjectively weight the relevance of contributing events."

Essa espécie de demônio de Laplace aplicado ao ideal contemporâneo de gestão de si e do outro transpõe para o mundo cotidiano o movimento, já corriqueiro na tecnociência, de colonização do futuro pelas vias do controle e da previsão. Ao mesmo tempo, essa engenhoca parece um manual de auto-ajuda tecnologicamente assistido e, ainda que venha a ser eficaz nas suas funções, nos faz rir pelo absurdo de sua promessa - abolir o acaso pela sua própria simulação. Aliás, assim como na auto-ajuda, talvez também aí a eficácia operatória seja proporcional ao absurdo da promessa.

Um detalhe significativo e nada surpreendente ;-) : o projeto é da Microsoft Research.

É preciso invocar as marteladas nietzschenas contra esses eunucos concupiscentes e essas aranhas da razão:
"Por acaso, esta é a mais antiga nobreza do mundo, eu a restituí a todas as coisas, eu as libertei da servidão da finalidade...Encontrei em todas as coisas esta certeza bem-aventurada de que elas preferem dançar sobre os pés do acaso"

domingo, 13 de abril de 2008

Sous Surveillance


Le Monde entrevista Thierry Rousselin, co-autor do livro Sous Surveillance (Les Carnets de l'Info, 2008), que acaba de ser lançado. Pela entrevista e resenhas que li, trata-se de uma abordagem mais informativa que reflexiva e, embora se proponha uma tarefa ingênua - separar o mito da realidade - o livro parece oferecer um visão abrangente e bem informada sobre o estado da vigilância atual, cobrindo diversos dispositivos: satélite, Internet, telefonia móvel, vídeo, biometria, rfid etc. Não li o livro, mas gostei da proveniência dos autores ;-): Rousselin é consultor em observação espacial e professor de "geointeligência" na École des Mines em Paris, além de escrever regularmente em fanzines de rock 'n' roll; Françoise de Blomac, sua co-autora, é geógrafa, cartógrafa e especialista em novas tecnologias de comunicação e de informação.

Street as plataform


[Image courtesy of Timo Arnall]

Artigo de Dan Hill no City of Sound trata dos diversos fluxos informacionais que cruzam e redefinem o sentido e a experiência das ruas nas cidades contemporâneas. Propõe a idéia de Rua como Plataforma, presente já no título, numa análise panorâmica desses fluxos quase invisíveis e múltiplos - telefonia móvel, rfid, câmeras de vigilância, computação e comunição móvel e sem fio, sistemas informacionais de monitoramento de dados, tráfego e pessoas, entre outros.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Vigilância mundial cotidiana: curiosidades

No Younghee Jung, algumas curiosidades da vigilância cotidiana mundo afora. Segundo o blog, a imagem abaixo é vista com frequência em ônibus e estações de metrô em Tokyo e sua legenda diz: “We won’t let evil escape”.


Na Coréia do Sul, cartazes divulgam o número telefônico 111, que destina-se a denúncias de espiões (norte coreanos ou industriais), terroristas ou criminosos internacionais.


Em Londres, como não poderia deixar de ser, cartazes em ônibus conclamam os passageiros a confiarem em seus sentidos, atentarem para atitudes suspeitas e, se for o caso, as reportarem aos funcionários do ônibus ou à polícia.

Luisa Paraguai

Tenho pesquisado artistas e ativistas brasileiros que trabalham com vigilância e visibilidade e espero em breve escrever sobre isso aqui (as promessas nesse blog são muitas e sem prazo de validade ;-). Hoje conheci o trabalho da Luisa Paraguai Donati, artista sediada em São Paulo e pesquisadora da Universidade de Sorocaba. Pelo que apresenta em seu site, o trabalho mais voltado para questões de visibilidade e vigilância é o Vemos...nos olham, apresentado no FILE 2001, e cujo título é claramente inspirado no livro de Didi-Huberman (O que vemos, o que nos olha. Ed. 34 letras). Só tive acesso à descrição do trabalho, que reproduzo abaixo, conforme o que consta no site do FILE 2001. A pesquisa atual da artista é sobre tecnologias móveis e objetos vestíveis, e o Networked Performance postou sobre este seu último trabalho ontem.


Vemos....nos olham
“What we see is important – only live – in our eyes through what see us.” Georges Didi-Huberman (1998) The new relations of participant/information/technological interface is possible through Computer Mediated-Comunication on the Web, for example ICQ, chat, virtual communities, video conference, e-mail, discussion list. The Web users can establish relationship in a synchronous/simultaneous and asynchronous way through this interactive communication space. This new possibility of social and political organization and cooperation on the net take place through the circulation of information when the users have the same purpose and not more the same shared physical space. The image other’s construction takes place through intermediated information by shared text, image and some times audio, on each user’s thoughts. This work presents this new communication space as another “perception system” when it tries to compose and show the user’s relationship among other people and himself/herself through the juxtaposition and superposition of the windows in an aesthetical movement. This site tries to propose a different behavior from the common sites when the user has to stop and try “to see and be seen”. The user is conducted to see and be seen while he/she is observed by different sights around him/her through the composition of the windows opened without interaction/navigation/choose. It is needed to close all the windows in a metaphorical introspective movement for the user find himself/herself: external random links show the possibility the others’ presence on the Web. There are some links on the first Web page that conduct the users to some communication spaces as ICQ, net meeting, 3D chat, electronic chat, and virtual community."


Biography Author: Luisa Paraguai Donati PhD Student and Master at Unicamp, Department of Multimedia, Institute of Arts. Researcher from wAwRwT project. She has presented works at National and International Congress about Art and Technology. She attended with the web site INcorpos at some recent artistic exhibition: “II Biennial from Mercosul”, Porto Alegre, RS, Brazil, and “Electronic Art Exhibition - SIBGRAPI2000”, Gramado, RS, Brazil.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Surveillance & Society


Dois novos números da Surveillance & Society estão on-line: Smart Borders and Mobilities: Spaces, Zones, Enclosures (número 5 (2)) e Surveillance and Inequality (número 5 (3)). Nesse último, há um artigo de uma pesquisadora da Unicamp - Marta Mourão Kanashiro - sobre câmeras de vigilância e exclusão no Parque da Luz em São Paulo. No site da revista há ainda chamadas para os próximos números.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

InVisibilities Conference

Acaba de acontecer na Universidade de Sheffield a terceira conferência da Surveillance & Society em parceria com o The Surveillance Studies Network. O tema da conferência foi Invisibilities: the politics, practice and experience of surveillance in everyday life e a lista dos papers pode ser acessada aqui. Abaixo seguem o resumo e os temas da conferência.

Invisibilities: the politics, practice and experience of surveillance in everyday life

"While many of the world´s nations are becoming surveillance societies, the nature of life with surveillance in those societies is far from homogeneous, and is not widely researched or theorised. This conference focuses on the lived realities of surveillance and is keen to encourage empirical studies which document its everyday experience. By its very nature surveillance makes populations visible, and differentiates between their members; surveillance itself features varied techniques,intensities and foci. Whether as workers, consumers, children, patients, criminals, web surfers or travellers we are made visible in different ways, through different technologies and administrative regimes. Visibility is not always total, unproductive or oppressive – visibility is necessarily partial. For some it is actively embraced: lives are lived in visibility. Nevertheless, widespread ambivalence towards surveillance has been noted in academic, policy and media circles. As surveillance confers benefits and incurs costs on individuals, personal information economies of surveillance emerge. In building personal strategies which involve surveillance practices, invisibilities are negotiated to mediate, limit and exploit exposure to surveillance. How individuals, groups, organizations and societies negotiate, experience, resist, comply with, and enjoy surveillance are critical empirical questions, which appeal to surveillance scholars from a wide range of social science disciplines."

Key themes to include:

* Experiencing Surveillance and Visibility
* Participatory and Voluntary Surveillance
* Theorising (in)visibility
* Histories of Surveillance and Visibility
* Surveillance of the Other - Visibility and Difference
* Representations of Surveillance in Film/Art/Literature/Media
* State Surveillance and Identification
* Surveillance, visibility and the welfare state
* Surveillance and consumer visibility
* The transparent body
* Electronic visibilities
* (In)visibility and labour
* Negotiating (in)visibility
* Researching (in)visibility
* Spatial visibilities
* Surveillance futures

domingo, 6 de abril de 2008

Câmeras, humor e biometria



A conexão entre videovigilância e biometria avança a passos largos e, como toda tecnologia de controle, suas aplicações são múltiplas. Tenho tratado de várias delas aqui e uma matéria recente do The New York Times mostra um tipo de software que além de analisar os padrões da face para fins de reconhecimento, interpreta os seus estados emocionais - irritado, feliz, surpreso, triste. Para além da segurança, essa vigilância biométrica-emocional serve às empresas que precisam monitorar os afetos dos seus clientes ou funcionários. A matéria menciona, por exemplo, o interesse de bancos em monitorar o humor de seus clientes na fila. Além disso, trata dos limites e falhas desses sistemas biométricos, especialmente quanto ao reconhecimento de face a céu aberto e à distância. Contudo, sabemos que o problema desses dispositivo não reside apenas em suas falhas, mas também em seus êxitos.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Publicidade 1934 - do olho elétrico ao Minority Report

Esse dispositivo de 1934 me lembrou o filme Minority Report e suas publicidades vigilantes e quase persecutórias de tão personalizadas. Mais uma vez o acervo é do Modern Mechanix.

ELECTRIC EYE REVEALS AD IN MIRROR
"Designed to be installed in the lobbies of hotels and public buildings, a new advertising device offers a passer-by a chance to inspect his appearance in a mirror, and invites him to take a folder from a pile on a shelf. When he reaches for a folder, he unwittingly interrupts a beam of light that falls upon a photo-electric cell. Brilliant lights automatically flash on behind the mirror, which is now seen to be transparent, and illuminate an advertisement within the cabinet for a predetermined period of time."

1967 e monitoramento de dados


Interessante artigo de 1967, publicado na revista Atlantis (via Modern Mechanix), sobre a formação de uma vigilância computacional de dados pessoais e a elaboração de bancos de dados estatais. O artigo antecipa uma série de processos hoje corriqueiros e embora mantenha o seu foco no poder centralizador do Estado, antevê a atual proliferação acentrada de bancos de dados de toda sorte. Trechos:
"The modern computer is more than a sophisticated indexing or adding machine, or a miniaturized library; it is the keystone for a new communications medium whose capacities and implications we are only beginning to realize. In the foreseeable future, computer systems will be tied together by television, satellites, and lasers, and we will move large quantities of information over vast distances in imperceptible units of time."

"The very existence of a National Data Center may encourage certain federal officials to engage in questionable surveillance tactics. For example, optical scanners — devices with the capacity to read a variety of type fonts or handwriting at fantastic rates of speed — could be used to monitor our mail. By linking scanners with a computer system, the information drawn in by the scanner would be converted into machine-readable form and transferred into the subject’s file in the National Data Center."

Satellite Secrets


No we make money not art, notas sobre a apresentação de Lisa Parks no festival Zemos98 desse ano, cujo tema foi Regresso al futuro. Em Satellite Secrets: Between Spying and Dreaming, Lisa Parks analisa as imagens de satélite e os seus usos militares, corporativos, políticos e artísticos. Imagens entre espionagem e sonho, a partir das quais a autora propõe o seguinte programa reflexivo, artístico e político:

"Investigate satellites, learn their names, who owns them, what they do, how they have been used. There is a need for more satellite literacy.
Contest the militaristic and corporate appropriation of satellites with more art, activism, dreaming and experimentation.
Imagine how the use of satellite in the public interest might be defined."

terça-feira, 1 de abril de 2008

Sentence first - verdict afterwards!


A polícia britânica argumenta em favor do mapeamento e registro em bancos de dados genéticos do DNA de crianças cujo comportamento indiquem que elas podem se tornar criminosas no futuro. Nas palavras terrificantes do diretor de ciências forenses da Scotland Yard:
"If we have a primary means of identifying people before they offend, then in the long-term the benefits of targeting younger people are extremely large".
Desde 2004 a polícia britânica pode recolher amostras de DNA de qualquer indivíduo que seja detido e que tenha mais de 10 anos (!). O banco de dados genético do UK é o maior da Europa e estima-se haver cerca de 1.5 milhão de amostras de DNA de pessoas entre 10 e 18 anos.

Essa forma de vigilância e condenação preventiva também é reivindicada no campo terapêutico: um relatório recente do Institute for Public Policy Research clama por terapia cognitivo-comportamental e programas de apoio a famílias com crianças entre 5 e 12 anos classificadas no perfil de criminosas potenciais. O relatório, intitulado "Make me a criminal", defende que a prevenção deve começar cedo:
"You can carry out a risk factor analysis where you look at the characteristics of an individual child aged five to seven and identify risk factors that make it more likely that they would becomean offender". A matéria é do The Guardian.

No Brasil, uma pesquisa sobre "cérebros criminosos" foi anunciada por neurocientistas do Rio Grande do Sul, que pretendem mapear e estudar o cérebro de 50 voluntários jovens da antiga Febem de Porto Alegre. Diversas instituições e entidades já manifestaram nota de repúdio à pesquisa, inclusive o Conselho Federal de Psicologia. No dia 30 desse mês de abril, o Núcleo de Pesquisa em Cognição e Coletivos/NUCC da UFRJ, do qual faço parte, realizará um debate sobre essa pesquisa e esse tema. Farei a chamada aqui em tempo.

"Let the jury consider their verdict," the King said, for about the twentieth time that day...
"No, no!" said the Queen. "Sentence first -- verdict afterwards."
"Stuff and nonsense!" said Alice loudly. "The idea of having the sentence first!"
"Hold your tongue!" said the Queen, turning purple.
"I won't!" said Alice.
"Off with her head!" the Queen shouted at the top of her voice. Nobody moved.
"Who cares for you?' said Alice, (she had grown to her full size by this time.) "You're nothing but a pack of cards!"
(Alice's Adventures in Wonderland, Lewis Carroll)