segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Café Tecnológico - Sesc Belenzinho


Participei, no dia 19/11/11 de uma mesa no "Café Tecnológico: Arte e Meios Tecnológicos" promovido pelo Sesc Belenzinho. Ocasião para voltar às reflexões sobre estéticas da vigilância, um tema que nunca ocupa plenamente o centro da minha pesquisa, mais por falta de competência do que de interesse. Um tema, contudo, sempre presente. Nesta fala, focalizei sobretudo as zonas de incerteza que habitamos frente ao olhar e a atenção vigilantes hoje. Se a estética disciplinar de vigilância institui uma zona de incerteza quanto à possibilidade de estar sendo visto ou não, a contemporânea institui uma zona de incerteza quanto ao sentido desse olhar e dessa atenção historicamente associados à vigilância. Sentido que transita entre o controle e a liberdade, a segurança e a ameaça, o policial e o libidinal, a suspeita e o cuidado, a inspeção e o entretenimento. Retomei dois trabalhos que operam com essa zona de incerteza, que diferentes modos, e  que já me são bastante familiares, uma vez que já foram objeto de textos ou falas anteriores: o vídeo Teoria da Paisagem do Roberto Bellini e o filme Imagens da Prisão do Harun Farocki. Sobre o primeiro vídeo, reproduzo trecho de um pequeno artigo escrito em parceria com Consuelo Lins, e recomendo o ótimo texto do Cezar Migliorin. Sobre o filme do Farocki, não me dedico a ele suficientemente em nenhum texto (salvo num futuro artigo no prelo), ainda que o apresente aqui e acolá em conferências. Em nossa língua portuguesa, uma boa coletânea sobre o trabalho do artista encontra-se no catálogo da mostra Harun Farocki: por uma politização do olhar, disponível para download.

" O diálogo entre o guarda e o artista revela um outro sentido ao ato de olhar e filmar, ausente na paisagem contemplativa e “inocente” que vemos na imagem, mas absolutamente presente no cotidiano das paisagens urbanas e midiáticas. A câmera e, por extensão, o olhar são capturados e reduzidos a um dispositivo de vigilância potencial. Sob suas perguntas e advertências notamos mais uma vez a dificuldade, mencionada anteriormente, em discernir vigias e vigiados. A abordagem do guarda é um sintoma de quanto a função estética da câmera de vídeo é capturada por uma função social, intimamente atrelada à vigilância.

O vídeo de Bellini opera e registra um duplo deslocamento: uma paisagem é deslocada de sua função contemplativa para uma função de controle social, mas esse deslocamento opera um segundo registro, expondo as tensões e os limites da política do olhar em nossa cultura. Encadeamento de vigilâncias curioso: o guarda que vigia um território atribui um sentido de vigilância ao ato de filmar uma paisagem, o que por sua vez acaba desencadeando um registro que é ao mesmo tempo um “documentário poético” e um documento de vigilância/controle." (Bruno, F. & Lins, C., Estéticas da Vigilância, 2006)

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Teoria Ator-Rede e Cibercultura

Tive o prazer de organizar duas mesas no último Simpósio da ABCiber, reunindo Lúcia Santaella, Erick Felinto, Theophilos Rifiotis, André Lemos e eu mesma, em torno do tema "Ator-Rede e Cibercultura". A idéia desta mesa tem origem em outras que a precederam, propostas por Theophilos Rifiotis, que iniciou o movimento, que nos contagiou, de provocar a cibercultura ao diálogo com a teoria ator-rede. Seguem abaixo os resumos das mesas, montadas em forma de diálogos, os quais infelizmente não foram publicados na programação do evento. Aqui fica nosso registro.

V SIMPÓSIO NACIONAL ABCIBER
16-18 de novembro de 2011  
Ator-Rede e Cibercultura: diálogos I
Fernanda Bruno (proponente/coordenadora)
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Erick Felinto
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Lucia Santaella
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Resumo
Esta mesa reúne pesquisadores brasileiros que vêm explorando a Teoria Ator-Rede (ANT) no âmbito da cibercultura, segundo perspectivas diversas. Primeira parte de uma proposta que envolve dois módulos - Ator-Rede e Cibercultura: diálogos I e II – a mesa se estrutura na forma de três diálogos, cujos temas centrais são: as noções de rede e de tradução na obra de Bruno Latour (Lúcia Santaella e André Lemos); as conexões entre o pensamento deste autor e as novas teorias de mídia alemã (Erick Felinto e Theophilos Rifiotis); e as implicações de uma ontologia política das redes (encaminhada pela ANT) para a cibercultura (Fernanda Bruno e Lúcia Santaella).
Abstract
This section gathers Brazilian researchers who have been exploring the Actor-Network theory within the scope of cyberculture, according to different perspectives.  It is the first part f a proposal that comprises two modules – Actor-Network Theory and Cyberculture I and II.  The section is organized in the form of a threefold dialogue, whose main topics are: the notions of network and translation in the work of Bruno Latour  (Lucia Santaella & André Lemos); the connections between Latour’s thought and the new German media theories (Erick Felinto & Theophilos Rifiotis); the implications of a political ontology of networks for cyberculture (Fernanda Bruno & Lucia Santaella).
Proposta da mesa
A Teoria Ator-Rede (ANT), que tem seu início nos anos 1980 a partir dos trabalhos de J. Law, M. Callon, B. Latour, entre outros, vem sendo apropriada de diversos modos pelas ciências humanas e sociais, especialmente por pesquisas em que a tecnologia e a ciência ocupam lugares centrais. Esta mesa propõe estender esta discussão ao campo da cibercultura, especialmente pertinente para a reflexão e a investigação de noções chave para a ANT, tais como rede, agência, mediação, tradução, coletivos. Na forma de diálogos ou interpelações entre pesquisadores brasileiros que vêm se dedicando a estes temas, a mesa se estrutura em dois módulos. Neste primeiro módulo – “Ator-Rede e Cibercultura: diálogos I” –  os diálogos focalizarão as noções de rede e de tradução na obra de Bruno Latour, as conexões entre o pensamento deste autor e as novas teorias de mídia alemã, e as implicações de uma ontologia política das redes para a cibercultura. A mesa será composta por três intervenções, conforme os títulos e resumos apresentados a seguir, sendo que cada intervenção será interpelada por outro pesquisador, membro desta mesa ou do segundo módulo desta proposta (Ator-Rede e Cibercultura: diálogos II).
Primeira Intervenção:
Noções-chave para entender as redes em Latour
Lucia Santaella (Interlocutor: André Lemos)
Bruno Latour extraiu o conceito de rede da obra Lê revê d´Alembert (1769) de Diderot, a qual inclui 27 exemplos da palavra “rede”. Lembrar essa origem é importante para não se confundir o conceito de rede da ANT (Actor-Network-Theory) com dois outros conceitos de rede que são comumente usados: de um lado, o conceito técnico de rede (eletricidade, trens, internet etc.), de outro lado, o conceito utilizado na sociologia das organizações para introduzir a diferença entre organizações, mercados, estados. Este artigo visa explicitar as divergências entre as noções comumente aceitas de rede e aquela utilizada por Latour. Esta implica conceitos-chave tais como sociologia das associações em oposição às sociologias do social, actante em oposição a ator e, sobretudo, em lugar de mero intermediário, o conceito especializado de mediador que só se faz entender à luz do significado específico que a palavra “tradução” recebe na ANT.
Segunda Intervenção:
O social não existe de muitas maneiras; o social está por fazer. Ressonâncias de uma ontologia política das redes para a cibercultura.
Fernanda Bruno (Interlocutora: Lucia Santaella)
Uma das afirmações mais contundentes da teoria ator-rede, especialmente reiterada por Bruno Latour, é a de que o social não existe. Muitas provocações estão contidas nesta frase, entre elas, a de que boa parte da sociologia teria se poupado do trabalho essencial de explicar como se constrói “o social”, transformando-o numa espécie de grande estrutura ou substância que tudo explica. O “social” não é o que explica, diz a teoria ator-rede, mas o que merece ser explicado. E explicar, neste caso, é também construir o próprio social, ou um mundo comum. Ou seja, trata-se de um “programa” a um só tempo cognitivo e político. Nesta intervenção, focalizarei um dos encaminhamentos que Bruno Latour dá a este “programa”, notadamente aquele que retoma uma intuição fundadora das ciências sociais e humanas: a de que não agimos sós e tampouco somos senhores do que fazemos. Latour radicaliza a sentença e formula o que proponho chamar de uma ontologia política performativa. Ressalto três aspectos essenciais desta ontologia: a natureza heterogênea dos seres que a compõem; o caráter distribuído da ação que a anima; o sentido político que a orienta. Estes três aspectos serão explorados num diálogo com autores como Simondon e Foucault, tendo em vista as suas implicações para a pesquisa no campo da cibercultura, com destaque para o problema dos traços e rastros digitais como matéria controversa de um social por fazer.
Terceira Intervenção:
“Bruno Latour mit deutscher Akzent”:  Convergências entre a Teoria Ator-Rede e as Novas Teorias de Mídia Alemães
Erick Felinto (Interlocutor: Theophilos Rifiotis)
A obra de Bruno Latour impactou de forma significativa nos mais diversos domínios do conhecimento, tanto nas ciências do homem como da natureza.  Todavia, não obstante a originalidade do pensamento latouriano, não se pode dizer que tenha se desenvolvido ex-nihilo ou que se estruture unicamente a partir de insights absolutamente inéditos.  Esse pensamento é em larga medida tributário de filósofos como Gilbert Simondon e Étienne Souriau e sociólogos como Gabriel Tarde.  Por outro lado, Latour encarna com perfeição certas tendências intelectuais que parecem caracterizar as feições emergentes de uma epistemologia tipicamente contemporânea, fascinada com os temas da agência, da materialidade dos objetos e da inter-relação entre sujeitos, aparatos e instituições.  O objetivo deste trabalho é tecer algumas conexões entre a obra do sociólogo francês e determinados princípios das novas teorias de mídia produzidas no contexto germânico.  Tal comparação irá se centrar nos (emblemáticos) percursos intelectuais de Vilém Flusser e Friedrich Kittler, pensadores em cujos escritos acreditamos ser possível encontrar interessantes ressonâncias com a démarche latouriana.  A noção de sociedade telemática, em Flusser, assim como o conceito kittleriano de Aufschreibeysteme (“sistemas de notação”) cumprirão o papel de bússola em uma investigação cujo sentido final é esboçar algumas das principais linhas de força de uma nova epistemologia adequada às exigências do presente.
Referências bibliográficas
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Foucault, Michel (1971). L’Ordre du discours. Leçon inaugurale du Collège de France. Paris: Gallimard.
Gumbrecht, Hans Ulrich (2004). The Production of Presence: what Meaning cannot convey. Stanford: Stanford University Press.
Kittler, Friedrich (1999). Gramophone, Film, Typewriter. Stanford: Stanford University Press.
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Klook, Daniela & Spahr, Angela (1997). Medientheorien. Eine Einführung. Stuttgart: Uni-Taschenbücher S.
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Simondon, Gilbert (1989). L'individuation psychique et collective. Paris: Aubier.
___________ (1989). Du mode d'existence des objets techniques. Paris: Aubier.
Winthrop-Young, Geoffrey (2005). Friedrich
Ator-Rede e Cibercultura: diálogos II
Erick Felinto
Universidade Federal do Rio de Janeiro
André Lemos
Universidade Federal da Bahia
Theophilos Rifiotis
Universidade Federal de Santa Catarina 
Resumo
Esta mesa consiste no segundo módulo da proposta “Ator-Rede e Cibercultura: diálogos I e II”, que reúne pesquisadores brasileiros cujas pesquisas vêm explorando a Teoria Ator-Rede (ANT) no âmbito da cibercultura, segundo perspectivas diversas. Os temas discutidos estruturam-se na forma de dois diálogos.  O primeiro focaliza as noções de espaço e lugar a partir da ANT, tendo em vista práticas recentes no âmbito das tecnologias de informação e redes telemáticas (André Lemos e Erick Felinto). O segundo diálogo discute as implicações noção de agência para os estudos da “cibercultura” à luz da ANT, especialmente dos trabalho de Bruno Latour e de Marilyn Strathern sobre redes e agências (Theophilos Rifiotis e Fernanda Bruno). Os diálogos serão seguidos de amplo debate reunindo os participantes dos dois módulos da proposta.
Abstract
This section consists in the second module of the proposal “Actor-Network Theory and Cyberculture: Dialogues I & II”, which gathers Brazilian researchers whose work explores the Actor-Network Theory (ANT) in the context of cyberculture according to different perspectives.  The topics are to be discussed in the form of two dialogues.  The first focuses on the notions of space and place in ANT, considering recent practices within the scope of information technologies and telematic networks (André Lemos & Erick Felinto).  The second dialogue discusses the implications of the notion of agency for “cyberculture” studies in the light of ANT, especially in the work of Bruno Latour and Marilyn Strathern on networks and agencies (Theophilos Rifiotis & Fernanda Bruno). The dialogues will be followed by a debate joining the participants of the two modules of the proposal.
Proposta da mesa
A Teoria Ator-Rede (ANT), que tem seu início nos anos 1980 a partir dos trabalhos de J. Law, M. Callon, B. Latour, entre outros, vem sendo apropriada de diversos modos pelas ciências humanas e sociais, especialmente por pesquisas em que a tecnologia e a ciência ocupam lugares centrais. Esta mesa propõe estender esta discussão ao campo da cibercultura, especialmente pertinente para a reflexão e a investigação de noções chave para a ANT, tais como rede, agência, mediação, tradução, coletivos. Na forma de diálogos ou interpelações entre pesquisadores brasileiros que vêm se dedicando a estes temas, a mesa se estrutura em dois módulos. Neste segundo módulo – “Ator-Rede e Cibercultura: diálogos II” –  os diálogos discutirão as noções de espaço, lugar, agência e redes a partir da ANT, tendo em vista práticas recentes no âmbito das tecnologias de informação e redes telemáticas, bem como os estudos da “cibercultura”. A mesa será composta por duas intervenções, conforme os títulos e resumos apresentados a seguir, sendo que cada intervenção será interpelada por outro pesquisador, membro desta mesa ou do primeiro módulo desta proposta (Ator-Rede e Cibercultura: diálogos I). Os diálogos serão seguidos de um debate de encerramento da mesa, reunindo os participantes dos dois módulos.
Primeira Intervenção:
Espaço, Lugar e ANT
André Lemos (Interlocutor: Erick Felinto)
A ANT nos permite ver como os lugares se constituem por redes de atores que conectam sempre outros “sites” e temporalidades. Para Latour (2005) há sempre uma relação entre localização e contexto a partir de “articulators” ou “localizers”. Aqui, mais uma vez, o lugar não é independente do contexto, nem um mero refém deste. Há um vai-e-vem entre diversos mediadores que conectam “sites” e temporalidades fazendo do lugar o resultado de um atravessamento de fluxos. Para Latour nenhuma relação associativa em um determinado lugar é: “isotopic” (o que age em um lugar vem de muitos outros lugares), “synchoric” (reúne actantes gerados em diversas temporalidades), “synoptic” (não é possível ter uma visão do todo), “homogeneous” (as relações não têm as mesmas qualidades) ou “isobaric” (relações e pressões diferenciadas em cada lugar onde intermediários transformam-se em mediadores e vice-versa) (LATOUR, 2005, pp. 200, 201). Não se trata de globalizar o lugar nem de localizar o global, mas de pensar em uma “redistribuição” do local e do global. Essa nova cartografia tem assim um papel de reconstrução da memória social, de engajamento espacial, de produção de sentido local, de reforço de vínculo identitário, e de produção de uma política da cidade. As tecnologias de informação e as redes telemáticas têm criado possibilidade de rastrear os dados sociais para diversos fins, inclusive de controle e vigilância. Essas tecnologias fornecem dados finos das associações, das variações, das adaptações e das redes sociais que nenhuma estatística jamais pode oferecer (traços de navegações em tempo real, mapeamentos e articulações com escrita nos lugares, marcas das leituras feitas nesse deslocamento…rastros de uma mobilidade que se inscreve e se lê, revelando associações). Contrariamente, os rastros digitais, para o melhor ou o pior (vigilância), revelam as caóticas navegações e as fluidas associações pelo vivido (o lugar).
Segunda Intervenção:
Redes, Agências e Fluxos
Theophilos Rifiotis (Interlocutor: Fernanda Bruno) 
Trata-se de uma apresentação das implicações da noção de agência centrada na ANT tal como a trabalha Bruno Latour, articulando-se com as considerações de Marilyn Strathern sobre redes e agências, para os estudos da chamada “cibercultura”.  Partimos da crítica da estética da objetividade moderna (purificação e tradução), entendendo que a noção de redes sociotécnicas tem um valor epistemológico para a superação das dicotomias clássicas (sujeito/objeto, social/técnica, natureza/cultura, ciência/sociedade).  A sua importância nos estudos da chamada “cibercultura” é ainda pouco explorada e tem vínculos com a própria idéia latouriana do encolhimento do sentido de “social” para abrigar exclusivamente a ação humana (consciência, intencionalidade, volição).  Em grandes linhas, propomos uma sistematização deste debate desenvolvendo a noção de híbrido, rede e agência.
Em primeiro lugar procuramos colocar em perspectiva a nossa vontade de saber sócio-técnico, procurando debater os limites e alternativas analíticas da ANT para a superação de dicotomias como social/técnica e humano/não-humano.  Desenvolvemos a idéia de que a rede não é um contexto a ser descrito e no qual se desenvolve a ação.  Ela é o que deve ser explicado e não a explicação na “cibercultura”.  Em termos da ANT, existimos no interior (contexto) e ao mesmo tempo fazemos parte de redes (mediador).  Redes são fluxos, processos incessantemente produzidos.  Assim, descrever uma rede implica em rastrear associações entre entidades (humanas e/ou não-humanos), destacar agências, identificar coletivos, sinteticamente, mapear fluxos: pontos de inflexão, deslocamentos e controvérsias (M. Strathern).
Por último, discutimos a noção de agency, agência.  Lembrando que não se trata de uma determinação, nem questão de escolha.  A questão da agência na perspectiva de B. Latour pode ser resumida na pergunta: como um elemento incide no curso da ação?  Ou, o que faz fazer num contexto relacional ? 
Concluímos no sentido de que o foco das pesquisas, na perspectiva sociotécnica, tem foco nos agenciamentos, quer dizer: descrever como algo/alguém faz algo/alguém fazer (actantes), mostrar a ação e os rastros da mediação (evento), construção de coletivos de actantes.
Debate Final:
Participantes dos módulos Ator-Rede e Cibercultura: diálogos I e II (Fernanda Bruno, Erick Felinto, Theophilos Rifiotis, Lucia Santaella, André Lemos)
O debate final visa pontuar e retomar as principais questões debatidas nos dois módulos, de modo a traçar uma primeiro mapa de problemas relativos às implicações da ANT para a pesquisa no campo da cibercultura. 
Referências bibliográficas
FLUSSER, Vilém (2008). Kommunikologie weiter denken: Die Bochumer Vorlesungen. Frankfurt am Main: Fischer.
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STRATHERN, Marilyn. “Cutting the Network”. Journal of the Royal Anthropological Institute 2 (3): 517-535, 1996. (on-line) 
STRATHERN, Marilyn.  O Gênero da dádiva. Problemas com as mulheres e problemas com a sociedade na Melanésia. Campinas, Editora Unicamp, 2006. 
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. “O conceito de sociedade em Antropologia”. In:  A inconstância da alma selvagem. São Paulo, Cosac & Naify, 2002, p. 295-316. 
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. “O nativo relativo”. Rio de Janeiro, Mana, v. 8, n. 1, 2002, p. 113-148. (on-line)
WINTHROP-YOUNG, Geoffrey (2005). Friedrich Kittler: zur Einführung. Hamburg: Junius.