terça-feira, 31 de agosto de 2010

Blogagem Coletiva de repúdio ao AI5 Digital


Aderindo à blogagem coletiva de repúdio aos projetos de vigilantismo (vulgo AI5 Digital) que ameaçam a liberdade na Internet brasileira. Vejam mas informações no blog do Mega Não! Estou na França, onde vigora uma lei - a Hadopi - que criminaliza o compartilhamento de arquivos e obras culturais na Internet, quando este viola direito autoral. Embora todos que conheço aqui digam que a lei é inexequível e que sua função é fundamentalmente retórica, o seu princípio é inaceitável. Para evitar que leis semelhantes controlem a Internet brasileira, é fundamental o repúdio ao AI5 Digital! E para quem ainda não assinou, veja a petição on-line em defesa da liberdade na Internet brasileira.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Call for Papers: Surveillance in Latin America

Estou editando, junto com Rodrigo Firmino, Nelson Arteaga, Marta Kanashiro e Vanessa Lara, um número especial da Revista Surveillance & Society / The international, interdisciplinary, open access, peer-reviewed journal of Surveillance Studies. O periódico é um dos mais importantes na área de estudos de vigilância e este número dedica-se a América Latina. Esta edição dá continuidade a uma série de eventos, publicações e parcerias da Rede Latino-americana de Estudos sobre Vigilância (em breve teremos um site), fundada em 2009.
Convidamos, assim, pesquisadores de diversas áreas a submeter artigos sobre o tema da vigilância na América Latina. Como o periódico é interdisciplinar e o tema faz fronteira com inúmeros campos de conhecimento, reflexão e intervenção, vale lembrar que o leque temático é amplo abarcando as dinâmicas da vigilância em diversos domínios: espaço urbano e ciberespaço, comunicação, entretenimento, práticas artísticas, ativismo, produção audiovisual, produção de subjetividade, entre outros. Aceitamos também indicações de livros de autores latino-americanos ou de temas latino-americanos para a sessão de resenhas (sempre relacionados à vigilância).
Abaixo o Call for Papers na íntegra (em inglês, português e espanhol), também disponível no site da Surveillance & Society.
Call for Papers: Issue 9(2): Surveillance in Latin America
Call for Papers "Surveillance in Latin America"
Chamada de Trabalhos "Vigilância na América Latina"
Convocatoria para trabajos “Vigilancia en América Latina”
[english - portugese and spanish follow]
Call for papers to researchers with specific interest in Latin America, and authors/participants of the events "Surveillance in Latin America" that took place in Curitiba (Brazil) and Toluca (Mexico), in 2009 and 2010, respectively:
We would like to invite you to attend the call for papers for a special issue of the journal Surveillance & Society (http://www.surveillance-and-society.org) that will have the same theme as the events in Curitiba (http://www2.pucpr.br/ssscla) and Toluca (http://bit.ly/c3Knxy), that is, "SURVEILLANCE IN LATIN AMERICA".
This call will be open to everyone interested in surveillance in Latin America. However, papers submitted and presented in both events can be integrally re-submitted to S&S in bilingual versions (Portuguese+English OR Spanish+English). We suggest that they be revised and updated.
IMPORTANT:
1) This is going to be a bilingual issue. Therefore, all papers (apart from the ones originally submitted to the event in English) MUST have two IDENTICAL versions: one in English and another in its original language (Portuguese or Spanish). After the refereeing process, changes and revisions eventually suggested by referees must be applied in both versions. Authors must follow the journal's author guidelines, available at: http://bit.ly/c81UpY
2) Submission MUST be made through the online submission process (please do not send it by email). Find more information at: http://bit.ly/bEkIq5
3) As it is a special issue, authors MUST write 'Latin America' in the 'Comments for the Editor' section on the first step of the 5-step submission process.
Submissions will undergo double blind reviews, according to the editorial rules of S&S.
Important dates:
January 20th, 2011 - submission deadline
April 20th, 2011 - review deadline
May 30th, 2011 - resubmission deadline
June/July, 2011 - Publication
We look forward to receive as many contributions as possible. This is a great opportunity to have your studies known by an international audience in a very reputable journal.
Regards,
Rodrigo Firmino, Nelson Arteaga Botello, Fernanda Bruno, Marta Kanashiro, Vanessa Lara.
[português]
Chamada de trabalhos à pesquisadores com foco na América Latina, e autores/participantes dos eventos "Vigilância na América Latina" realizados em Curitiba (Brasil) e Toluca (México), em 2009 e 2010 respectivamente:
Gostaríamos de convidá-los a participar da chamada de trabalhos para uma edição especial do periódico Surveillance & Society (http://www.surveillance-and-society.org) que terá como temática principal os eventos realizados em Curitiba (http://www2.pucpr.br/ssscla) e Toluca (http://bit.ly/c3Knxy), isto é, "SURVEILLANCE IN LATIN AMERICA".
Esta chamada será aberta a todos os pesquisadores interessados no tema da vigilância na América Latina, independente da participação nos eventos. Entretanto, os trabalhos submetidos e apresentados nos eventos podem ser re-submetidos na íntegra para a revista S&S em versões bilíngüe (português+inglês OU espanhol+inglês). Sugerimos ainda que sejam revistos e atualizados.
IMPORTANTE:
1) Será uma edição bilíngüe. Assim, todos os trabalhos (com exceção daqueles originalmente submetidos ao evento em inglês) DEVEM ter duas versões IDÊNTICAS: uma em inglês e outra na língua original (português ou espanhol). Após os pareceres e revisões, alterações eventualmente propostas pelos pareceristas devem ser realizadas em ambas as versões. Todos os trabalhos devem seguir as regras de formatação e redação do periódico, disponíveis em: http://bit.ly/c81UpY
2) Os trabalhos DEVEM ser submetidos através do sistema online de submissões do próprio periódico (favor não enviar por email). Mais informações sobre este processo podem ser encontradas em: http://bit.ly/bEkIq5
3) Como será uma edição especial, os autores DEVEM escrever "Latin America" no espaço reservado como "Comments for the Editor" no primeiro de cinco passos no processo de submissão online.
As submissões receberão duplos pareceres anônimos conforme as regras editoriais do S&S.
Datas importantes:
20/01/2011 - submissão do artigo completo
20/04/2011 - resposta com pareceres
30/05/2011 - limite para resubmissão
Junho/Julho 2011 - publicação
Esperamos poder contar com a participação do maior número possível de trabalhos. Esta é uma grande oportunidade de divulgação de suas pesquisas a um público internacional em um periódico de muito respeito.
Abraços,
Rodrigo Firmino, Nelson Arteaga Botello, Fernanda Bruno, Marta Kanashiro, Vanessa Lara.
[español]
Convocatória para trabajos a los investigadores con un enfoque en América Latina, y autores/participantes de los eventos “Vigilancia en América Latina”, que tuvieron lugar en Curitiba (Brasil) y Toluca (México), en 2009 y 2010, respectivamente:
Queremos invitarlos a participar en la convocatoria de trabajos para una edición especial de la revista Surveillance & Society (http://www.surveillance-and-society.org) que tendrá el mismo tema que los eventos en Curitiba (http://www2.pucpr.br/ssscla) y Toluca (http://bit.ly/c3Knxy), esto es, “VIGILANCIA EN LATINOAMÉRICA”.
Esta convocatoria estará abierta a toda persona interesada en la vigilancia en Latinoamérica. Sin embargo, los trabajos registrados y presentados en ambos eventos pueden ser entregados también para la S&S en versiones bilingües (Español + Inglés ó Portugués + Inglés). Sugerimos que sean versiones revisadas y actualizadas.
IMPORTANTE:
1) Esta será una edición bilingüe. Por lo tanto, todos los textos (con excepción de aquellos originalmente enviados a los eventos en inglés) DEBERÁN tener dos versiones IDÉNTICAS: una en inglés y otra en su idioma original (Portugués ó Español). Después del proceso de dictaminación, los cambios y revisiones que eventualmente sean sugeridos por los dictaminadores, deberán realizarse a las dos versiones. Los autores deben seguir los criterios editoriales de la revista, disponibles en: http://bit.ly/c81UpY
2) Los trabajos DEBERÁN ser entregados a través del sistema en línea de entrega de la propia revista (favor de no enviar por correo electrónico). Más información en: http://bit.ly/bEkIq5
3) Al ser una edición especial, los autores deberán escribir “Latin America” en el espacio denominado “Comments for the Editor”, en el primero de los cinco pasos del proceso de entrega.
Los trabajos entregados serán evaluados bajo el criterio pares ciegos, de acuerdo con las normas editoriales de la S&S.
Fechas importantes:
Enero 20, 2011- Fecha límite para entrega de trabajos
Abril 20, 2011- Fecha límite para dictaminar trabajos
Mayo 30, 2011- Fecha límite para reenvío de trabajos
Junio/julio, 2011- Publicación
Esperamos contar con la mayor cantidad posible de contribuciones. Esta es una gran oportunidad para divulgar sus trabajos de investigación entre un público internacional en una revista de prestigio.
Saludos,
Rodrigo Firmino, Nelson Arteaga Botello, Fernanda Bruno, Marta Kanashiro, Vanessa Lara.

Cotas na UFRJ: Carta Aberta

Carta aberta sobre as cotas na UFRJ
Ao contrário do que pretendem afirmar alguns setores da imprensa, o debate em torno de políticas afirmativas e de sua implementação no ensino universitário brasileiro não pertence à UFRJ, à USP ou a qualquer setor, "racialista" ou não, da sociedade. Soma-se quase uma década de reflexões, envolvendo intelectuais, dirigentes de instituições de ensino, movimentos sociais e movimento estudantil, parlamentares e juristas.
Atualmente, cerca de 130 universidades públicas brasileiras já adotaram políticas afirmativas - entre as quais, a das cotas raciais - como critério de acesso à formação universitária. Entre estas instituições figuram a UFMG, a UFRGS, a Unicamp, a UnB e a USP, que estão entre as mais importantes universidades brasileiras.
Em editorial da última terça-feira, 17 de agosto, intitulado "UFRJ rejeita insensatas cotas raciais", o jornal O Globo assume, de forma facciosa, uma posição contrária a essas políticas afirmativas. O texto desmerece as ações encaminhadas por mais de cem universidades públicas e tenta sugestionar o debate em curso na UFRJ. Distorcendo os fatos, o editorial fala em "inconstitucionalidade" da aplicação do sistema de cotas, quando, na verdade, o que está em pauta no Supremo Tribunal Federal não é a constitucionalidade das cotas, mas os critérios utilizados na UnB para a aplicação de suas políticas afirmativas.
Na última década, enquanto a discussão crescia em todo o país, a UFRJ deu poucos passos, ou quase nenhum, para fazer avançar o debate sobre as políticas públicas. O acesso dos estudantes à UFRJ continua limitado ao vestibular, com uma mera pré-seleção por meio do ENEM, o que significa um processo ainda excludente de seleção para a entrada na universidade pública. Apesar disso, do mês de março para cá, o debate sobre as cotas foi relançado na UFRJ e, hoje, várias decisões podem ser tomadas com melhor conhecimento do problema e das posições dos diferentes setores da sociedade em relação ao assunto.
Se pretendemos avançar rumo a uma democracia real, capaz de assegurar espaços de oportunidades iguais para todos, o acesso à universidade pública deve ser repensado. Isto significa que é preciso levar em conta os diferentes perfis dos estudantes brasileiros, em vez de seguir camuflando a realidade com discursos sobre "mérito" (como se a própria noção não fosse problemática e como se fosse possível comparar méritos de pessoas de condição social e trajetórias totalmente díspares) ou sobre "miscigenação" (como se não houvesse uma história de exclusão dos "menos mestiços" bem atrás de todos nós).
Cotas sociais - e, fundamentalmente, aquelas que reconhecem a dívida histórica do Brasil em relação aos negros - abrem caminhos para que pobres dêem prosseguimento aos seus estudos, prejudicado por um ensino básico predominantemente deficiente. Só assim os dirigentes e professores das universidades brasileiras poderão continuar fazendo seu trabalho de cabeça erguida. Só assim a comunidade universitária poderá avançar, junto com o país e na contra-mão da imprensa retrógrada, representada por O Globo, em direção a um reconhecimento necessário dos crimes da escravidão, crimes que, justamente, por ainda não terem sido reconhecidos como crimes que são, se perpetuam no apartheid social em que vivemos.
Rio de Janeiro, 19 de agosto de 2010
Assinam os professores da UFRJ:
Alexandre Brasil - NUTES
Amaury Fernandes – Escola de Comunicação
André Martins Vilar de Carvalho - Filosofia/IFCS e Faculdade de Medicina
Anita Leandro – Escola de Comunicação
Antonio Carlos de Souza Lima – Museu Nacional
Clovis Montenegro de Lima - FACC/UFRJ-IBICT
Eduardo Viveiros de Castro – Museu Nacional
Denilson Lopes – Escola de Comunicação
Fernando Rabossi - IFCS
Fernando Alvares Salis – Escola de Comunicação
Fernando Santoro - IFCS
Flávio Gomes - IFCS
Giuseppe Mario Cocco - Professor Titular, Escola de Serviço Social
Heloisa Buarque de Hollanda – Professora Titular, Escola de Comunicação/FCC
Henrique Antoun - Escola de Comunicação
Ivana Bentes – Diretora, Escola de Comunicação
Katia Augusta Maciel - Escola de Comunicação
Leonarda Musumeci – Instituto de Economia
Lilia Irmeli Arany Prado – Observatório de Valongo
Liv Sovik – Escola de Comunicação
Liz-Rejane Issberner - FACC/UFRJ-IBICT
Marcelo Paixão – Instituto de Economia
Marcio Goldman – Museu Nacional
Marildo Menegat – Escola de Serviço Social
Marlise Vinagre - Escola de Serviço Social
Nelson Maculan - Professor titular da COPPE e ex-reitor da UFRJ
Olívia Cunha – Museu Nacional
Otávio Velho – Professor Emérito, Museu Nacional
Paulo G. Domenech Oneto – Escola de Comunicação
Renzo Taddei – Escola de Comunicação
Roberto Cabral de Melo Machado - IFCS
Samuel Araujo – Escola de Música
Silvia Lorenz Martins - Observatorio do Valongo
Suzy dos Santos – Escola de Comunicação
Tatiana Roque – Instituto de Matemática
Virgínia Kastrup – Instituto de Psicologia
Silviano Santiago, Professor emérito, UFF
Alabê Nunjara Silva, graduando em RI, UFRJ
Fernanda Bruno - Instituto de Psicologia (*assinado agora, no momento deste post)

domingo, 15 de agosto de 2010

Novidades para a vida rastreável: Life Account e Merry Misser

Duas tecnologias-serviços recentes, produzidas no cruzamento da pesquisa acadêmica e do mercado, tornam mais visíveis as possibilidades de monitoramento e rastreamento da vida cotidiana no sentido de extrair padrões de comportamento e projetar futuros imediatos que possam intervir proativamente nas escolhas dos indivíduos.
Life Account é uma plataforma criada pelo coletivo de estudantes mexicanos Rhinnovation, que acaba de ganhar o prêmio Cisco I-Prize A plataforma segue a mina da captura de dados de usuários, mas a sua novidade consiste em cruzar dados on-line com aqueles capturados através dispositivos acoplados aos objetos do mundo "físico". Reúne, assim, a chamada "Internet das coisas" com a disponibilização de dados pessoais incrementada pelas mídias sociais, criando um banco de dados com perfis virtuais que expressem hábitos e padrões comportamentais de usuários. Essa "expressão" não fala apenas do que já está aí, ou ali, no usuário, mas também do que ainda supostamente não foi detectado seja pelo próprio usuário, seja pelo mercado, seja pelos especialistas em marketing. Desejos e necessidades "escondidos" não mais no inconsciente de cada um, mas na massiva trama de dados inter-individuais que, uma vez "minerados", projetam "tendências" ultra-personalizadas.
Confrome matéria do Read Write Web:
"Life Account will generate a database with improved and meaningful information about the market and customers," said team leader Darius Lau. "Information can be filtered, reducing the complexity and response time of activities, while maximizing communication among people, companies and smart devices in order to detect under-served and unarticulated needs, expectations and desires about the products, and market research for its key partners, while always protecting the privacy of its users."

Tenho argumentado, contudo, que não se trata exatamente da detecção de padrões "escondidos" ou não visualizáveis no fluxo desorganizado de dados, mas da performatividade ou proatividade desta detecção ou visualização. Numa palavra, elas funcionam, quando funcionam, não apenas porque atendem a um desejo ou necessidades prévios, mas porque os incitam ou excitam quando anunciados. Velho lema da publicidade e outras estratégias persuasivas, mas que agora ganha uma temporalidade e uma espacialidade muito peculiares, articuladas à possibilidade de se rastrear as ações cotidianas de um número imenso de indivíduos em tempo real ou muito próximo disso, e ao mesmo tempo "processá-las", ordená-las e categorizá-las de forma extremamente veloz, permitindo intervir sobre essas ações e seus futuros imediatos quando elas ainda estão "vivas" ou em curso.
O outro serviço é um aplicativo para mídias móveis (ainda em estado de protótipo) que pretende rastrear o histórico de compras do usuário e seus dados de localização e construir uma "memória" capaz de orientá-lo quando ele se aproxima de uma oportunidade de consumo. A idéia é monitorar o usuário de modo a antecipar suas expectativas de compra e fazer aconselhamentos que inibam compras impulsivas e gastos desnecessários. Um serviço que se deseja mais perto da psicologia do que do marketing, ainda que com a mesma retórica - fazer de você um consumidor mais feliz. Mas enquanto o marketing e a publicidade monitoram para incitar o consumo, o bem intencionado Merry Misser monitora os indivíduos para orientá-los a gastarem menos ou a pensarem duas vezes antes comprar. Diz seu slogan: "A financial watchdog that watches out for you."

Os dois serviços reúnem duas faces de uma mesma moeda. Na vida rastreável, as tecnologias de monitoramento se misturam às tecnologias do cuidado, e olham por você. Dois lemas cada vez mais complementares: monitoring is business; monitoring is caring.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Espera, futuro e fotografia, por Maurício Lissovsky

Na sequência e fazendo tremer o post anterior: "Uma das principais intenções do meu livro era mostrar que a fotografia contém índices de futuro e não apenas índices de passado. Como “historiador”, estou convencido que são estes índices de futuro que tornam estas imagens inteligíveis hoje (e um “hoje” muito particular que nos permite perceber certas imagens e não outras). Por isso o passado, de fato, nunca está “resolvido”. Ele nos busca. Ele nos visa. Mas as forças que configuram as imagens não são apenas oriundas do Mundo ou do Gesto do fotógrafo. Há uma vontade das imagens ali também, há uma luta pela “sobrevivência” (também, e principalmente, no sentido Warburguiano). Toda imagem fotográfica é um campo de luta e um amálgama de tempos. Toda fotografia é um cristal das tensões que a constituem." (Entrevista de Maurício Lissovsky a Ronaldo Entler, sobre seu livro A Máquina de Esperar, Mauad, 2009)
Foto: Gentil Barreiro | Maurício Lissovsky em 1986

Sobre as novas possibilidades de manipulação e circulação da fotografia em tempos digitais:
"Resumidamente, acho que as facilidades de manipulação e processamento das fotografias nos ajudam a tornar visíveis os sonhos que estas imagens traziam “adormecidos em seu ventre”. Estes recursos colocaram ao alcance de qualquer criança e da intuição do artista mais ingênuo a possibilidade de liberar estes sonhos em grande escala e com fácil acesso (facilitando muito a vida de pesquisadores que teriam que realizar meses ou anos de pesquisa iconográfica para observar resultados similares). Por outro lado, não está muito claro qual o estatuto destas imagens na sociedade contemporânea e em quê coisa estão se transformado as imagens antigas. Um teórico americano, WJT Mitchell criou a expressão de “biodigital picture” para tentar descrever o que são estas imagens na cultura contemporânea e como elas funcionam, mas o debate está totalmente em aberto. No que diz respeito estritamente aos arquivos, a única perda a lamentar é que o predomínio do acesso sobre o depósito (facilitado pelos meios digitais e pela internet) tornou mais obscura a dimensão de vizinhança das imagens, seus padrões de acumulação. Sua vida coletiva, digamos assim. Esta dimensão “original” passará a ser algo que apenas especialistas eruditos terão contato." (Maurício Lissovsky, em entrevista a Ronaldo Entler)

A ótima entrevista, na íntegra, está no site Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Tempo sobreposto


De costas para o instantâneo, essas fotografias de Michael Weslesy são de longa duração: com exposição de anos, a imagem acumula e sobrepõe camadas temporais. No lugar do instante capturado, o movimento redobrado. As fotografias neste post são da Potsdamer Platz em Berlim, com exposição de 1997 a 1999, período em que o espaço estava sendo reconstruído. Deixo essas imagens fantasmagóricas para a querida @vonthenen, que me recebeu recentemente em Berlim, detesta a Potsdamer Platz e adora fotografias.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Pós-doutorado Sciences Po


Estou residindo em Paris por um ano para um pós-doutorado na Sciences Po Paris. O ano letivo começa em setembro e estarei vinculada a dois núcleos de pesquisa: o SUERTE/CERI e o MÉDIALAB. O Suerte/CERI é coordenado por Didier Bigo, meu orientador, e desenvolve pesquisas sobre as evoluções nas práticas contemporâneas de segurança e vigilância na Europa e na América do Norte. A minha participação no Suerte/CERI tem dois focos principais. Primeiro, discutir os processos globais de vigilância na sociedade contemporânea, cotejando as particularidades da Europa, da America do Norte e do Brasil. Este cotejamento é de grande interesse para o meu projeto, uma vez que ele integra a Rede de Estudos sobre Visibilidade, Vigilância e Tecnologia na America Latina, da qual sou membro-fundadora. Além disso, há uma especial oportunidade de discutir com este grupo questões relativas ao monitoramento e vigilância de dados no ciberespaço, tema de interesse comum. Esta oportunidade é enriquecida pelos vínculos que o grupo SUERTE/CERI e seu coordenador mantêm com outros núcleos de pesquisa. A saber, o IN:EX (Converging and conflicting ethical values in the internal/external security continuum), que analisa tecnologias de monitoramento de dados e empresas de segurança, dando prosseguimento ao programa europeu de pesquisa sobre liberdade e segurança na Europa (Challenge); e o LISS – Living in Surveillance Society, que trata de questões relativas à vigilância na vida cotidiana, sobretudo aquelas atreladas às tecnologias de informação e de comunicação.
O MEDIALAB/Sciences Po, dirigido por Bruno Latour e Dominique Boullier, é um laboratório inspirado na estrutura criada pelo Medialab do Massachusetts Institute of Technology (MIT) de Cambridge, mas com propósitos específicos, não sendo uma réplica deste último. Trata-se de um laboratório de mídias digitais voltado para os meios de comunicação e de produção de dados engendrados pelas novas tecnologias de informação e de comunicação (NTIC). Estabelecendo conexões entre as novas tecnologias, a pesquisa e o ensino, o MEDIALAB/Sciences Po encontra a sua particularidade na renovação profunda da pesquisa em ciências sociais e políticas, tanto dos seus métodos de trabalho como das abordagens de seus objetos. Esta renovação tem como eixo central as transformações recentes desencadeadas pelas novas tecnologias de informação e de comunicação, especialmente aquelas relativas às capacidades e monitoramento e rastreamento de dados sobre opiniões, atitudes, trajetórias no ciberespaço. Nas palavras de Bruno Latour, diretor do MEDIALAB/Sciences Po, tais tecnologias abriram a possibilidade de “traçabilité du social”, o que se configura numa valiosa oportunidade de renovação dos aportes teóricos e sobretudo metodológicos das ciências sociais, possibilitando a criação de métodos “quali-quantitativos”. Ainda segundo Latour, “depuis une quinzaine d'années, de très nombreuses autres formes de « traçabilité » ont vu le jour. Elles consistent pour l'essentiel à identifier la « trace » que les membres des sociétés développées laissent derrière eux par le simple fait d'utiliser une technique numérique quelconque. Les réservoirs de données ainsi disponibles sont immenses et largement inexploités. Ils remettent en cause la distinction entre agrégat et individu puisqu'il est possible de suivre quantitativement des carrières individuelles en très grand nombre. D'où l'expression de méthode ‘quali-quantitative’. Aucun des secteurs de l'enseignement et de la recherche en sciences sociales ne peut aujourd'hui se passer de l'apprentissage et du développement de ces méthodes.”
É precisamente esta atenção às formas de monitoramento e rastreamento de dados sobre indivíduos, hábitos, interesses, comportamentos etc no ciberespaço, bem como a proposta de desenvolver metodologias “quali-quantitativas” de análise destes dados que mobilizou o meu interesse pelo Médialab/Sciences Po.
A participação nestes dois permitem conectar os estudos sobre vigilância e as tecnologias de comunicação e de informação, integrando dois campos de interesse das minhas pesquisas atuais. Veremos como tudo se passará a partir de setembro.