quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Espera, futuro e fotografia, por Maurício Lissovsky

Na sequência e fazendo tremer o post anterior: "Uma das principais intenções do meu livro era mostrar que a fotografia contém índices de futuro e não apenas índices de passado. Como “historiador”, estou convencido que são estes índices de futuro que tornam estas imagens inteligíveis hoje (e um “hoje” muito particular que nos permite perceber certas imagens e não outras). Por isso o passado, de fato, nunca está “resolvido”. Ele nos busca. Ele nos visa. Mas as forças que configuram as imagens não são apenas oriundas do Mundo ou do Gesto do fotógrafo. Há uma vontade das imagens ali também, há uma luta pela “sobrevivência” (também, e principalmente, no sentido Warburguiano). Toda imagem fotográfica é um campo de luta e um amálgama de tempos. Toda fotografia é um cristal das tensões que a constituem." (Entrevista de Maurício Lissovsky a Ronaldo Entler, sobre seu livro A Máquina de Esperar, Mauad, 2009)
Foto: Gentil Barreiro | Maurício Lissovsky em 1986

Sobre as novas possibilidades de manipulação e circulação da fotografia em tempos digitais:
"Resumidamente, acho que as facilidades de manipulação e processamento das fotografias nos ajudam a tornar visíveis os sonhos que estas imagens traziam “adormecidos em seu ventre”. Estes recursos colocaram ao alcance de qualquer criança e da intuição do artista mais ingênuo a possibilidade de liberar estes sonhos em grande escala e com fácil acesso (facilitando muito a vida de pesquisadores que teriam que realizar meses ou anos de pesquisa iconográfica para observar resultados similares). Por outro lado, não está muito claro qual o estatuto destas imagens na sociedade contemporânea e em quê coisa estão se transformado as imagens antigas. Um teórico americano, WJT Mitchell criou a expressão de “biodigital picture” para tentar descrever o que são estas imagens na cultura contemporânea e como elas funcionam, mas o debate está totalmente em aberto. No que diz respeito estritamente aos arquivos, a única perda a lamentar é que o predomínio do acesso sobre o depósito (facilitado pelos meios digitais e pela internet) tornou mais obscura a dimensão de vizinhança das imagens, seus padrões de acumulação. Sua vida coletiva, digamos assim. Esta dimensão “original” passará a ser algo que apenas especialistas eruditos terão contato." (Maurício Lissovsky, em entrevista a Ronaldo Entler)

A ótima entrevista, na íntegra, está no site Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo.

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