terça-feira, 28 de abril de 2009

A polícia sob vigilância

Há alguns dias, postei sobre as imagens amadoras que mostraram uma nova versão sobre a morte de um homem na ocasião da reunião do G20 em Londres. O vídeo amador desmentiu a versão da polícia, que estava implicada no incidente, desencadeando uma crise de confiança na polícia inglesa. Numa busca rápida na rede, encontrei algumas matérias que tratam temas e incidentes correlatos; deixo dois links aqui:
Proliferação de câmeras em protestos deixa polícia mais exposta (BBC Brasil)
At New School Protest, Truth Depends on Camera Angle (The New York Times com tradução no Terra Tecnologia)

domingo, 26 de abril de 2009

Milk - a privacidade como ato político


Vi há pouco o filme Milk do Gus Van Sant e comento aqui não propriamente o filme, mas uma passagem em que a privacidade (e a sexualidade) como ato político aparecem explicitamente na fala dos personagens, embora essa questão atravesse todo o filme. Diante da ameaça de demissão de professores gays, Milk e outros ativistas conclamam todos os profissionais gays a "saírem do armário" e colocarem a sua privacidade nas ruas para reivindicar direitos plenos aos homossexuais. Não é sem constrangimento, hesitação e sofrimento que os personagens envolvidos nessa luta política evocam esse ato tão íntimo de revelar a seus familiares, amigos, colegas, e mesmo a seus filhos, a sua sexualidade dita contra-natural. O filme não se demora aí, mas na transformação desse constrangimento numa ação coletiva e política em que a sexualidade sai do segredo privado e da sombra da doença que lhe imputavam, para ganhar as ruas e a festa pública e política nos seus melhores sentidos.
Todos conhecem essa e outras histórias que marcaram as lutas das ditas minorias nos anos 1960 e 1970 e a história das relações público-privado (Ehrenberg, L'individu incertain), que hoje se embaralham novamente, mas de um outro modo. Em parte da produção midiática contemporânea, a privacidade vem novamente a público, mas como entretenimento e espetáculo reforçando modelos de consumo, competitividade e performance. Entretanto, sabemos que não se esgota nesses modelos o potencial político das vidas contemporâneas e as formas com que público e privado podem se interpelar. Enquanto via o filme e ao mesmo tempo me lembrava da miséria política e sexual dos nossos reality shows, pensava na urgência de se reinventar o cu revolucionário (1) do tempo presente.
(1) O termo "baixo" é uma citação a uma "alta" origem - além de "a imaginação no poder", minorias dos anos 1960-70 clamavam "nosso cu é revolucionário", entre outras tantas conhecidas palavras de ordem.

Manifesto sobre Mídias Locativas

Em tempos de assédio publicitário e/ou monitoramento vigilante das mídias móveis e locativas, chega em boa hora o Manifesto sobre as Mídia Locativas, do André Lemos.

Tecnologias do Anonimato e da Liberdade


Bom artigo na Technology Review sobre as tecnologias que garantem o anonimato e a liberdade na Internet. O artigo focaliza sobretudo o Tor, um software open-source que possibilita escapar às análises de tráfego na Internet, viabilizando a navegação anônima (veja um antigo post sobre o software e um resumo do seu funcionamento). Ativistas políticos e sociais de diversos países tem usado o Tor como ferramenta de liberdade e circulação de informações, sobretudo em países com regimes repressivos como China, Síria, Zimbabwe, entre outros. As tecnologias do anonimato e da liberdade garantindo uma condição fundamental das mais diversas ações sociais e políticas na rede e fora dela.
Em tempo, para que não tenhamos que usar o Tor em nosso cotidiano, assine a petição contra o Projeto de lei do senador Azeredo.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Marrie Bot: Timeless Love


Marrie Bot, Geliefden-Timeless Love, 2004

Marrie Bot, Geliefden-Timeless Love, 2004

Postos de saúde e câmeras de vigilância

A prefeitura de Foz do Iguaçu, no Paraná, instalou câmeras de vigilância e microfones em um Posto de Saúde para monitorar a qualidade do atendimento público. As imagens e o som são monitorados pelo gabinete do prefeito e pela secretária de saúde. A medida é muitíssimo questionável tanto do ponto de vista dos direitos dos trabalhadores quanto da privacidade dos pacientes. Segundo o Conselho Municipal e Saúde de Foz do Iguaçu, a medida é ilegal (via G1).
O uso de câmeras de vigilância para o monitoramento do trabalho tem se ampliado no Brasil e não se vê nenhuma discussão significativa sobre o tema.

terça-feira, 21 de abril de 2009

segunda-feira, 20 de abril de 2009

A força policial no G20 e a vigilância distribuída


O incidente da morte de Ian Tomlinson durante os protestos nas ruas de Londres na ocasião das reuniões do G20 explicita algumas transformações recentes nas relações de força vigentes na vigilância contemporânea. Como foi amplamente noticiado, a polícia inicialmente negou qualquer tipo de envolvimento com o incidente, sendo desmascarada por vídeos amadores, gerando uma crise de credibilidade na relativamente bem reputada polícia inglesa (mais detalhes no The guardian).
O curioso nessa tentativa da polícia em esconder suas relações com a morte de Ian Tomlinson foi a sua sintomática cegueira para as inúmeras câmeras fotográficas e de vídeo que lhe eram apontadas pelos manifestantes. Como a polícia foi capaz de achar que poderia esconder algo diante de tantas câmeras, absolutamente visíveis em todos os vídeos sobre as manifestações e o incidente? Uma hipótese é que este ponto cego reflete uma perspectiva policial-estatal que não se vê, literalmente, como vulnerável ao olhar das massas e dos que costumam ser apenas objetos do olhar policial. A instituição e a força policiais não se colocaram a velha questão, elementar: who watch the watchmen? (quem vigia o vigilante?). Apenas preocuparam-se em declarar que os vastos sistemas de CCTV não capturaram nenhuma imagem do incidente. Preocuparam-se com as câmeras que eles mesmos controlam e que eventualmente podem se voltar contra eles, mas não com as câmeras da multidão ali presente, as quais redistribuem as forças do ver e do ser visto, constituindo uma das faces da vigilância distribuída nas sociedades contemporâneas.
Tenho proposto o termo vigilância distribuída para designar o estado mais amplo e multifacetado da vigilância contemporânea. O meu artigo mais recente sobre o tema será apresentado na Compós e pode ser acessado aqui. Nesse artigo exploro uma outra face da vigilância distribuída, distinta da que vemos nesse post, quando associada a certas formas de participação. Diferentemente daqui, em que as câmeras amadoras imprimem uma resistência às forças policiais, neste artigo vemos os indivíduos requisitarem para si o olhar policial.

domingo, 12 de abril de 2009

Facebook Facial Recognition


Mais um exemplo da incorporação de dispositivos e estéticas de vigilância a ambientes e tecnologias de comunicação: novo aplicativo da rede social Facebook utiliza programa de reconhecimento facial para encontrar e classificar fotos de usuários. Mais detalhes no Read Write Web e no TechCrunch.

Eyeborg


"If you lose your eye and have a hole in your head, then why not stick a camera in there?"
Rob Spence


Uma câmera de vídeo sem fio incorporada a um olho protético que, desde então, passa a capturar e registrar tudo o que "vê". Eis no que consiste, sumariamente, o Eyeborg, projeto do realizador Rob Spence, que acopla esse "olho-câmera" ao seu próprio corpo lesado. Tendo perdido a vista num acidente ainda criança, o realizador incorpora agora um olho artificial que não o permite propriamente ver, mas filmar enquanto vive. Na linha dos lifelogs, lifestreamings ou lifecasters (Justin.TV, Ustream.tv, Gordon Bell, Hasan Elahi) e inspirado no trabalho do ativsta e artista Steve Mann, o Eyeborg, se considerado com base no site do projeto, me pareceu um tanto panfletário e muito confiante na proeza tecnológica da mutação cyborg. Ainda que a "obra" consista em parte no próprio devir câmera do olho e do corpo do realizador, resta ver o que se produz a partir daí.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Conferência David Murakami Wood


No último 07 de abril, o Prof. David Murakami Wood (Newcastle University) palestrou no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, a convite do CiberIDEA e do PPGCOM/UFRJ. David apresentou um interessantíssimo e amplo estudo sobre as relações entre vigilância e sociedade em três países: Inglaterra, Japão e Brasil. David Murakami Wood está finalizando sua residência no Brasil como professor visitante do Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana da PUCPR, onde realizou uma extensa pesquisa sobre vigilância em diferentes cidades brasileiras, entre elas o Rio. Em breve a sua palestra na UFRJ será disponibilizada na íntegra em vídeo no site do TJ/UFRJ. Recomendo e dou o sinal aqui quando estiver no ar.