segunda-feira, 20 de abril de 2009

A força policial no G20 e a vigilância distribuída


O incidente da morte de Ian Tomlinson durante os protestos nas ruas de Londres na ocasião das reuniões do G20 explicita algumas transformações recentes nas relações de força vigentes na vigilância contemporânea. Como foi amplamente noticiado, a polícia inicialmente negou qualquer tipo de envolvimento com o incidente, sendo desmascarada por vídeos amadores, gerando uma crise de credibilidade na relativamente bem reputada polícia inglesa (mais detalhes no The guardian).
O curioso nessa tentativa da polícia em esconder suas relações com a morte de Ian Tomlinson foi a sua sintomática cegueira para as inúmeras câmeras fotográficas e de vídeo que lhe eram apontadas pelos manifestantes. Como a polícia foi capaz de achar que poderia esconder algo diante de tantas câmeras, absolutamente visíveis em todos os vídeos sobre as manifestações e o incidente? Uma hipótese é que este ponto cego reflete uma perspectiva policial-estatal que não se vê, literalmente, como vulnerável ao olhar das massas e dos que costumam ser apenas objetos do olhar policial. A instituição e a força policiais não se colocaram a velha questão, elementar: who watch the watchmen? (quem vigia o vigilante?). Apenas preocuparam-se em declarar que os vastos sistemas de CCTV não capturaram nenhuma imagem do incidente. Preocuparam-se com as câmeras que eles mesmos controlam e que eventualmente podem se voltar contra eles, mas não com as câmeras da multidão ali presente, as quais redistribuem as forças do ver e do ser visto, constituindo uma das faces da vigilância distribuída nas sociedades contemporâneas.
Tenho proposto o termo vigilância distribuída para designar o estado mais amplo e multifacetado da vigilância contemporânea. O meu artigo mais recente sobre o tema será apresentado na Compós e pode ser acessado aqui. Nesse artigo exploro uma outra face da vigilância distribuída, distinta da que vemos nesse post, quando associada a certas formas de participação. Diferentemente daqui, em que as câmeras amadoras imprimem uma resistência às forças policiais, neste artigo vemos os indivíduos requisitarem para si o olhar policial.

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