quinta-feira, 31 de julho de 2008

Detector de Mentiras e Reality Show


Um exemplo menor, mas digo de atenção.
Aliar a lógica policial ao espetáculo parece mesmo ser uma das chaves dos reality shows. Nessa trilha, o programa em cartaz na TV israelense "Polígrafo" ou, em termos mais populares, "Detector de Mentiras", remunera (com 1 milhão de shekels) os candidatos que dizem diante das câmeras as mesmas verdades ditas sob a ausculta de um detector de mentiras dias antes. O espetáculo alimenta-se do teor constrangedor das perguntas, que incidem sobre a vida íntima dos participantes e seus possíveis segredos. O mesmo programa, que parece ter sido concebido na Colômbia, é exibido nos EUA, Inglaterra, Espanha, Alemanha e ao que parece também no Brasil (mas não consegui confirmar). A matéria veio daqui.
Dizer a verdade é aí um ato digno de recompensa e testemunho promovido por um instrumento policial - o polígrafo - e referendado por um instrumento midiático - a câmera televisiva. Tudo isso mediado por um interrogatório-espetáculo. O parentesco da confissão com a tortura e o interrogatório jurídico-policial é conhecido, assim como a sua encenação em "praça pública". É espantoso como esses nexos são facilmente esquecidos pelos promotores do entretenimento e autorizados pela chancela da participação voluntária no assistencialismo televisivo.
Certa historiografia diz que os tipos que se regozijavam dos prazeres da corte e da nobreza serão os mesmos que irão alimentar os tratados médico-policiais e os catálogos de perversões das sociedades burguesas-disciplinares. Num olhar um tanto mal-humorado eu diria que, na passagem de ontem a hoje, as figuras médico-policiais da disciplina passam a alimentar os prazeres do nosso espetáculo televisivo.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Mapa geopolítico do cárcere



Na contramão dos mapas de crime que surgem na rede incitando o exercício de uma vigilância distribuída e participativa sobre a cidade e seus habitantes, o projeto Million Dollar Blocks mapeia o enorme investimento financeiro do estado americano em prisões, bem como o fluxo "city-prison-city-prison" em cinco cidades americanas. Esse mapa geopolítico do cárcere pretende tornar visível as sombrias estatísticas da justiça criminal, bem como a escolha do estado em investir em prisões o que poderia estar orientado para a "infraestrutura cívica, como educação, saúde, habitação e família". Trechos da descrição do projeto:

" The United States currently has more than 2 million people locked up in jails and prisons. A disproportionate number of them come from a very few neighborhoods in the country’s biggest cities. In many places the concentration is so dense that states are spending in excess of a million dollars a year to incarcerate the residents of single city blocks. When these people are released and reenter their communities, roughly forty percent do not stay more than three years before they are reincarcerated.
Using rarely accessible data from the criminal justice system, the Spatial Information Design Lab and the Justice Mapping Center have created maps of these “million dollar blocks” and of the city-prison-city-prison migration flow for five of the nation’s cities. The maps suggest that the criminal justice system has become the predominant government institution in these communities and that public investment in this system has resulted in significant costs to other elements of our civic infrastructure — education, housing, health, and family. Prisons and jails form the distant exostructure of many American cities today.
The project continues to present ongoing work on criminal justice statistics to make visible the geography of incarceration and return in New York, Phoenix, New Orleans, and Wichita, prompting new ways of understanding the spatial dimension of an area of public policy with profound implications for American cities."

TEAROOM


Uma dica preciosa do Marcos Martins (obrigada!!), o filme Tearoom, de William E. Jones (16 mm, 56 min, 1967/2000), realizado com imagens de arquivo de uma câmera de vigilância instalada pela polícia de Mansfield, Ohio, num banheiro público masculino no verão de 1962. Ao longo de três semanas, olhos policiais escondidos numa cabine testemunharam o sexo clandestino de inúmeros homens, produzindo provas que os condenaram à prisão por pena mínima de um ano como sodomitas. Alguns desses homens teriam se suicidado após a condenação. O filme de Jones edita essas imagens de arquivo com um mínimo de intervenção. No site é possível ver alguns stills do filme e cenas da ação policial. Imagens cuja força reside no lugar intermediário e incômodo em que se situam, entre o voyeurismo e a vigilância, entre a pornografia e o controle policial, entre o sexo marginal e a prova jurídica. Imagens plasticamente toscas, sem foco, granuladas, "poluídas" (para usar o termo do próprio Marcos), e cuja trajetória também merece atenção: da sexualidade periférica nos banheiros sujos da América nos anos 1960 sob os olhos policiais-voyeurísticos ao estatuto de evidência para a ordem jurídica e prisional até o documentário contemporâneo. Trajetória que inscreve uma atualidade, fazendo notar que uma série de aspectos estéticos e biopolíticos presentes no filme ressurgem hoje em novos contextos, formatos, propósitos. Trato de algumas dessas questões no texto Estéticas do Flagrante.
ps: não consegui achar o filme, se alguém conseguir ou tiver uma pista, agradeço.

domingo, 27 de julho de 2008

Imagem para domingo: Bansky

Surveillance Points of Sale


Em navegações pela rede e notificações do meu "Google Alerts" tenho visto cada vez mais publicidades e matérias no mundo dos negócios e vendas de produtos de vigilância, especialmente aqueles voltados ao comércio, enfatizando as vantagens adicionais dos sistemas de vídeo-vigilância além da proteção contra furtos, roubos ou "funcionários desonestos" (!) - controle e otimização da produção e do estoque, monitoramento dos hábitos de compra dos clientes, entre outros, passam a fazer parte do "pacote" das "soluções por meio de sistemas de segurança". A vídeo-vigilância cada vez mais incorporada aos critérios de eficiência e operacionalidade do mundo pós-industrial. Sobre esse mesmo tema incide esse post. Um exemplo da IT Reseller:

"Security systems at the POS (point of sale) aren't just for deterring shoplifters and dishonest employees anymore. Retailers, restaurants, and similar businesses are using video security systems to improve store operations, reduce costs throughout their businesses, and monitor customer purchasing behavior, among many other functions. In fact, showing your retail customers how they can use video monitoring systems to add value throughout their operations is a surefire way to grow your sales of security systems.
Preventing loss from internal and external dishonesty is still the top reason your customers will consider investing in a POS security system. ...Become an expert on the threats your customers face and the vulnerabilities in their operations so you can offer consulting services on setting up the system, including where to locate and how to configure security cameras, as well as whether to integrate the security system with the POS. ...Video provides more information than ever before, enabling a more planned, intelligent response to the activities that lead to shrink. "Loss prevention is key for retailers. They want to become more proactive in preventing loss versus addressing it after the fact," says Sorrentino."

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Bluetooth monitoring


Um projeto da Bath University, o Cityware, instalou secretamente uma série de bluetooth scanners em ruas, escritórios, publicidades etc e vem monitorando os trajetos de inúmeros indivíduos a partir de seus telefones celulares, computadores portáteis e câmeras digitais sem o seu consentimento. Conforme a matéria do The Guardian:

"The scanners, the first 10 of which were installed in Bath three years ago, are capturing Bluetooth radio signals transmitted from devices such as mobile phones, laptops and digital cameras, and using the data to follow unwitting targets without their permission.
The data is being used in a project called Cityware to study how people move around cities. But pedestrians are not being told that the devices they carry around in their pockets and handbags could be providing a permanent record of their journeys, which is then stored on a central database.
The Bath University researchers behind the project claim their scanners do not have access to the identity of the people tracked.
Eamonn O'Neill, Cityware's director, said: "The objective is not to track individuals, whether by Bluetooth or any other means. We are interested in the aggregate behaviour of city dwellers as a whole. The notion that any agency would seriously consider Bluetooth scanning as a surveillance technique is ludicrous.
But privacy experts disagree, pointing out that Bluetooth signals are assigned code names that can, to varying degrees, indicate a person's identity.
Many people use pseudonyms, nicknames, initials, or abbreviations to identify their Bluetooth signals. Cityware's scanners are also picking up signals that are listed using people's full name, email address and telephone numbers."

A discussão reportada acima mostra como se costuma identificar vigilância à violação de privacidade e à identificação pessoal, enquanto os novos dispositivos de vigilância digital envolvem modos bem mais sutis e complexos de rastreamento, monitoramento e classificação das ações e informações individuais, os quais muitas vezes não violam a privacidade no sentido convencional do termo, mas nem por isso deixam de ter efeitos de controle sobre as ações e escolhas possíveis dos indivíduos. Procuro enfrentar essa questão no meu último texto sobre este tema.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Intelligent Video Surveillance



A Paola Barreto, num comentário ao meu último post sobre a Axis Communication, chamou atenção para as vantagens adicionais das câmeras IP, que adiciona "inteligência" à vídeo-vigilância:
"uma das vantagens oferecidas pelos sistemas de videovigilância desenvolvidos por eles é a inteligência colocada no nível da câmera, e não dos gravadores de vídeo. Isto significa economia de espaço de armazenamento (uma das grandes questões trazidas pelo registro incessante de imagens) e de tempo para navegação pelas imagens armazenadas. As câmeras IP podem ser habilitadas para determinar se um evento tem relevância e merece ser enviado - para um central de monitoração, para um celular ou para a web."

Venho postando sobre alguns projetos que mostram como a adição de uma camada cognitiva à vídeo-vigilância vem sendo promulgada como a cereja do bolo das "soluções" de vigilância e segurança. As implicações biopolíticas, estéticas e subjetivas dessa vídeo-vigilância inteligente são inúmeras e a mesma Paola vem fazendo ótima pesquisa sobre o tema. Comenta em seu blog o revelador Caviar Test Case Scenarios, um programa de treinamento e aprendizagem de vídeo-vigilância com a finalidade de reconhecer situações e padrões comportamentais suspeitos. Economia da atenção, inteligência artificial preventiva e escopofilia da suspeita no mercado das soluções de vídeo-vigilância. Em breve nas ruas.

sábado, 19 de julho de 2008

Axis Brasil


Há algumas semanas atrás circulou uma notícia que por falta de tempo não comentei aqui. Uma das mais importantes empresas de vigilância e monitoramento remoto, a sueca Axis Communication, elegeu o Brasil como sede de seus negócios na América do Sul e prevê um crescimento em torno de 30% para 2008 no Brasil. Seus principais clientes-alvo são o governo em todas as suas instâncias - de ministérios e tribunais a órgãos de vigilância e segurança -, o grande varejo, hospitais e setor educacional. A Axis investe fortemente na transição da vigilância analógica para a digital, especialmente em câmeras IP (Internet Protocol), com ou sem fio, que podem ser acessadas e monitoradas de qualquer computador conectado a Internet. Tais câmeras reduzem significativamente o custo dos sistemas de vigilância, além de os tornarem mais "amigáveis", no sentido de mais fáceis de operar. Em termos tecnológicos, a passagem dos sistemas de CFTV (circuito fechado de televisão) às redes de câmeras IP aponta para um horizonte de crescente incorporação e naturalização da vigilância tanto no âmbito público quanto privado.

Playmobil Security Airports

Para as crianças se habituarem aos rituais de vigilância e segurança da vida adulta - Playmobil Security Check-In, via Versvs'Blog:

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Senado aprova o projeto de cibercrimes


Lamentavelmente, O Senado Federal aprovou ontem, com poucas mudanças, o Projeto Substitutivo do Senador Eduardo Azeredo. Agora o projeto segue para votação na Câmara. A mobilização pelo veto é fundamental e a petição on-line já conta com 11.682 assinaturas. Assinem e divulguem!!
Mais informações nos blogs do Pedro Dória e do André Lemos.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Do it yourself/Saúde


Já nos é familiar a individualização e privatização dos cuidados com a saúde, hoje em grande parte delegados às escolhas e estilos de vida individuais. O cruzamento da medicina genômica com a epidemiologia dos fatores de risco enchem as páginas de jornais e revistas, bem como as telas de TV com dicas personalizadas sobre como prevenir doenças modulando nossos hábitos e comportamentos. Há algum tempo venho percebendo um processo similar na Internet, sendo que aqui os cuidados com a saúde ganham um formato participativo e colaborativo que envolve, em alguns casos, a disponibilização de dados biomédicos pessoais para corporações como Google e Microsoft. Dois artigos recentes ilustram esse processo: "Check Yourself for Genetic Abnormalities", da Wired, e "Your Medical Data Online", da Technology Review.

7001 assinaturas pelo veto ao projeto de cibercrimes

A Petição pelo veto ao projeto de cibercrimes e o Manifesto "Em defesa da liberdade e do progresso do conhecimento na Internet Brasileira" chega a 6983 assinaturas depois de dois dias de circulação. Quando terrmino de escrever esse post, vou checar, já são 7001 assinaturas. Que esse pleito ressoe no Senado Federal!

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Monitoramento e marketing on-line


Artigo do The Economist trata das práticas de monitoramento de usuários da Internet visando a construção de perfis que permitam publicidade e marketing mais eficazes e baseados em "behavioural-targeting". Como afirma uma das empresas especializadas:
"With Phorm technology, the internet can automatically adapt itself to people's interests."

Petição on-line

Mais sobre o movimento pelo veto do projeto de lei do Senador Eduardo Azeredo e seu Substitutivo:

domingo, 6 de julho de 2008

Manifesto contra o projeto de lei Senador Azeredo

Abaixo, manifesto contra o Projeto de lei do Senador Eduardo Azeredo, que deve ser votado em 9 de julho. Aqueles que concordarem com o manifesto abaixo e quiserem assinar, enviem um OK com o nome e a instituição para o e-mail do Sergio Amadeu - samadeu@gmail.com - ou deixe um post com os mesmos dados aqui.
É muito bem-vinda a ajuda na circulação do documento e na coleta de assinaturas.

MANIFESTO EM DEFESA DA LIBERDADE E DO PROGRESSO DO CONHECIMENTO NA INTERNET BRASILEIRA
A Internet ampliou de forma inédita a comunicação humana, permitindo um avanço planetário na maneira de produzir, distribuir e consumir conhecimento, seja ele escrito, imagético ou sonoro. Construída colaborativamente, a rede é uma das maiores expressões da diversidade cultural e da criatividade social do século XX. Descentralizada, a Internet baseia-se na interatividade e na possibilidade de todos tornarem-se produtores e não apenas consumidores de informação, como
impera ainda na era das mídias de massa. Na Internet, a liberdade de criação de conteúdos alimenta, e é alimentada, pela liberdade de criação de novos formatos midiáticos, de novos programas, de novas tecnologias, de novas redes sociais. A liberdade é a base da criação do conhecimento. E ela está na base do desenvolvimento e da sobrevivência da Internet.

A Internet é uma rede de redes, sempre em construção e coletiva. Ela é o palco de uma nova cultura humanista que coloca, pela primeira vez, a humanidade perante ela mesma ao oferecer oportunidades reais de comunicação entre os povos. E não falamos do futuro. Estamos falando do presente. Uma realidade com desigualdades regionais, mas planetária em seu crescimento.

O uso dos computadores e das redes são hoje incontornáveis, oferecendo oportunidades de trabalho, de educação e de lazer a milhares de brasileiros. Vejam o impacto das redes sociais, dos software livres, do e-mail, da Web, dos fóruns de discussão, dos telefones celulares cada vez mais integrados à Internet. O que vemos na rede é, efetivamente, troca, colaboração, sociabilidade, produção de informação, ebulição cultural. A Internet requalificou as práticas colaborativas, reunificou as artes e as ciências, superando uma divisão erguida no mundo mecânico da era industrial. A Internet representa, ainda que sempre em potência, a mais nova expressão da liberdade humana.

E nós brasileiros sabemos muito bem disso. A Internet oferece uma oportunidade ímpar a países periféricos e emergentes na nova sociedade da informação. Mesmo com todas as desigualdades sociais, nós, brasileiros, somo usuários criativos e expressivos na rede. Basta ver os números (IBOPE/NetRatikng): somos mais de 22 milhões de usuários, em crescimento a cada mês; somos os usuários que mais ficam on-line no mundo: mais de 22h em média por mês. E notem que as categorias
que mais crescem são, justamente, “Educação e Carreira”, ou seja, acesso à sites educacionais e profissionais. Devemos assim, estimular o uso e a democratização da Internet no Brasil. Necessitamos fazer crescer a rede, e não travá-la. Precisamos dar acesso a todos os brasileiros e estimulá-los a produzir conhecimento, cultura, e com isso poder melhorar suas condições de
existência.

Um projeto de Lei do Senado brasileiro quer bloquear as práticas criativas e atacar a Internet, enrijecendo todas as convenções do direito autoral. O Substitutivo do Senador Eduardo Azeredo quer bloquear o uso de redes P2P, quer liquidar com o avanço das redes de conexão abertas (Wi-Fi) e quer exigir que todos os provedores de acesso à Internet se tornem delatores de seus usuários,
colocando cada um como provável criminoso. É o reino da suspeita, do medo e da quebra da neutralidade da rede. Caso o projeto Substitutivo do Senador Azeredo seja aprovado, milhares de internautas serão transformados, de um dia para outro, em criminosos. Dezenas de atividades criativas serão consideradas criminosas pelo artigo 285-B do projeto em questão. Esse projeto é uma séria ameaça à diversidade da rede, às possibilidades recombinantes, além de
instaurar o medo e a vigilância.

Se, como diz o projeto de lei, é crime "obter ou transferir dado ou informação disponível em rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado, sem autorização ou em desconformidade à autorização, do legítimo titular, quando exigida", não podemos mais fazer nada na rede. O simples ato de acessar um site já seria um crime por "cópia sem pedir autorização" na memória “viva” (RAM) temporária do computador. Deveríamos considerar todos os browsers
ilegais por criarem caches de páginas sem pedir autorização, e sem mesmo avisar aos mais comum dos usuários que eles estão copiando. Citar um trecho de uma matéria de um jornal ou outra publicação on-line em um blog, também seria crime. O projeto, se aprovado, colocaria a prática do “blogging” na ilegalidade, bem como as máquinas de busca, já que elas copiam trechos de sites
e blogs sem pedir autorização de ninguém!

Se formos aplicar uma lei como essa as universidades, teríamos que considerar a ciência como uma atividade criminosa já que ela progride ao "transferir dado ou informação disponível em rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado", “sem pedir a autorização dos autores" (citamos, mas não pedimos autorização aos autores para citá-los). Se levarmos o projeto de lei a sério, devemos nos perguntar como poderíamos pensar, criar e difundir conhecimento sem sermos criminosos.

O conhecimento só se dá de forma coletiva e compartilhada. Todo conhecimento se produz coletivamente: estimulado pelos livros que lemos, pelas palestras que assistimos, pelas idéias que nos foram dadas por nossos professores e amigos. Como podemos criar algo que não tenha, de uma forma ou de outra, surgido ou sido transferido por algum "dispositivo de comunicação ou sistema informatizado, sem autorização ou em desconformidade à autorização, do legítimo titular"?

Defendemos a liberdade, a inteligência e a troca livre e responsável. Não defendemos o plágio, a cópia indevida ou o roubo de obras. Defendemos a necessidade de garantir a liberdade de troca, o crescimento da criatividade e a expansão do conhecimento no Brasil. Experiências com Software Livres e Creative Commons já demonstraram que isso é possível. Devemos estimular a colaboração e
enriquecimento cultural, não o plágio, o roubo e a cópia improdutiva e estagnante. E a Internet é um importante instrumento nesse sentido. Mas esse projeto coloca tudo no mesmo saco. Uso criativo, com respeito ao outro, passa, na Internet, a ser considerado crime. Projetos como esses prestam um desserviço à sociedade e à cultura brasileiras, travam o desenvolvimento humano e colocam o país definitivamente para debaixo do tapete da história da sociedade da informação no século XXI.

Por estas razões nós, abaixo assinados, pesquisadores e professores universitários apelamos aos congressistas brasileiros que rejeitem o projeto Substitutivo do Senador Eduardo Azeredo ao projeto de Lei da Câmara 89/2003, e Projetos de Lei do Senado n. 137/2000, e n. 76/2000, pois atenta contra a liberdade, a criatividade, a privacidade e a disseminação de conhecimento na
Internet brasileira.


André Lemos, Prof. Associado da Faculdade de Comunicação da UFBA, Pesquisador 1 do CNPq.

Sérgio Amadeu da Silveira, Prof. do Mestrado da Faculdade Cásper Líbero, ativista do software livre.

Henrique Antoun, Prof. Associado da Escola de Comunicação da UFRJ, Pesquisador do CNPq.

Fernanda Bruno - Professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da UFRJ

Mônica Schieck, Doutoranda PPGCOM / ECO - UFRJ

José Maurício Alves da Silva, Jornalista e Programador Visual

terça-feira, 1 de julho de 2008

Base para unhas fracas

Trabalho de Alexandre Vogler nas ruas do Rio de Janeiro: "Base para unhas fracas", junho de 2008.



Foto: Alexandre Vogler

Trechos do texto Contexto “Base para Unhas Fracas”: Cidade, paisagem, mídia externa, de Alexandre Vogler:
"...recorro a uma imagem ordinária que, veiculada junto a um vidro de esmalte de unha, reproduz uma campanha publicitária de um cosmético.

A escolha deste segmento deve-se a fetichização da imagem da mulher em campanhas dessa (e outras) natureza como apelo de consumo. Assim, imprimo as mãos de uma mulher casada, com unhas pintadas de vermelho, sobre imagem manipulada que faz alusão ao órgão sexual feminino.
Parafraseando tais estratégias utilizo, grosseiramente, a imagem feminina alargando os padrões de aceitabilidade e bom senso utilizado nestas campanhas. Viso, com isso, estimular o pedestre amortizado a refletir sobre tais artimanhas utilizadas no mercado de forma subliminar, fazendo com que ele associe o mesmo procedimento em outras campanhas, feitas à vera, mas encobertas por recursos estéticos que ameniza a ilegalidade de suas ações.

A imagem contida, na verdade, trata-se de um conjunto de partes do corpo humano, alterados e reunidos digitalmente com a intenção de simular um conteúdo erótico, belicoso e, até mesmo, escandaloso."