quinta-feira, 31 de julho de 2008

Detector de Mentiras e Reality Show


Um exemplo menor, mas digo de atenção.
Aliar a lógica policial ao espetáculo parece mesmo ser uma das chaves dos reality shows. Nessa trilha, o programa em cartaz na TV israelense "Polígrafo" ou, em termos mais populares, "Detector de Mentiras", remunera (com 1 milhão de shekels) os candidatos que dizem diante das câmeras as mesmas verdades ditas sob a ausculta de um detector de mentiras dias antes. O espetáculo alimenta-se do teor constrangedor das perguntas, que incidem sobre a vida íntima dos participantes e seus possíveis segredos. O mesmo programa, que parece ter sido concebido na Colômbia, é exibido nos EUA, Inglaterra, Espanha, Alemanha e ao que parece também no Brasil (mas não consegui confirmar). A matéria veio daqui.
Dizer a verdade é aí um ato digno de recompensa e testemunho promovido por um instrumento policial - o polígrafo - e referendado por um instrumento midiático - a câmera televisiva. Tudo isso mediado por um interrogatório-espetáculo. O parentesco da confissão com a tortura e o interrogatório jurídico-policial é conhecido, assim como a sua encenação em "praça pública". É espantoso como esses nexos são facilmente esquecidos pelos promotores do entretenimento e autorizados pela chancela da participação voluntária no assistencialismo televisivo.
Certa historiografia diz que os tipos que se regozijavam dos prazeres da corte e da nobreza serão os mesmos que irão alimentar os tratados médico-policiais e os catálogos de perversões das sociedades burguesas-disciplinares. Num olhar um tanto mal-humorado eu diria que, na passagem de ontem a hoje, as figuras médico-policiais da disciplina passam a alimentar os prazeres do nosso espetáculo televisivo.

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