terça-feira, 24 de junho de 2008

YouTomb: arquivo morto-vivo



Hoje conversando com meu amigo Henrique Antoun, ele me dizia: "a mídia massiva tem uma memória falha, o jornal de hoje embrulha o pão de amanhã; enquanto na comunicação distribuída, sobretudo na web 2.0, tudo retorna e nada se apaga." É certo que estamos vivendo uma transformação significativa nas práticas, técnicas e políticas da memória e do arquivo, e as mídias digitais e a Internet estão no centro dessa mudança, que é plena de ambiguidades: se por um lado vivemos uma cultura da velocidade e da superação, numa corrida contra o tempo sufocada por um futuro que não cessa de se precipitar sobre o presente, e que não deixa lugar para os ritmos lentos, a duração e o cultivo da memória, por outro lado ampliamos imensamente a nossa capacidade de arquivo, criando uma memória que potencialmente nada esquece e que pode ser infinitamente estocada para o futuro. Uma memória "funesca", para lembrar do personagem de Borges, "Funes", e sua memória vasta de pormenores, que não somente recordava cada folha de cada árvore de cada monte, como cada uma das vezes que a tinha percebido ou imaginado. "Minha memória, senhor, é como despejadouro de lixos".
A conversa com Henrique e a frase do Funes me fizeram lembrar do YouTomb, um catálogo de vídeos retirados do YouTube por quebra de direitos autorais, censura ou a pedido dos próprios usuários. O site, projetado pelo MIT Free Culture, é um arquivo do que foi apagado, uma memória do que poderia ser esquecido, uma mostra exemplar da expansão do arquivo em nossa cultura. Ainda não sabemos que novos sentidos terão lembrar e esquecer nesse continente mnésico ainda novo e continuamente ampliado. Sabe-se contudo, com Derrida (Mal de arquivo, Relume Dumará, 2001), que não se vive da mesma maneira o que não se arquiva da mesma maneira.

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