Recebi hoje um comunicado sobre uma conferência em torno de Augustine, paciente histérica interna da Salpêtrière que se tornou célebre pelas suas "atuações" no teatro da histeria conduzido por Charcot e testemunhado por Freud e por fotógrafos que criaram uma iconografia singular. Rever as imagens de Augustine é uma boa forma de lembrar e perceber um regime de visibilidade das subjetividades modernas: o olhar, o riso, os gestos, as poses, as curvaturas e contraturas do corpo expressam uma economia libinal plena de conflitos e tensões, de excessos e freios, uma sexualidade perturbadora, o desejo em êxtase, o corpo atravessado pelo sintoma que, dizia Freud, surgia "no lugar da lembrança". Toda uma dimensão não visível, latente, recôndita e inconsciente que constitui as subjetividades modernas segundo um regime de visibilidade marcado pelas tensões entre o que se mostra e o que se esconde, o dentro e o fora, o manifesto e o latente. O corpo exposto da histérica expressa o que não se diz nem se vê plenamente. Não por acaso, Charcot dirige todo o teatro da histeria que prenuncia o inconsciente, buscando demonstrar no corpo da histérica sob hipnose a verdade daquilo que só se revela malgrado qualquer vontade. Às acusações de manipular e forjar as crises histéricas no teatro da Salpêtrière, respondia ser simplesmente um "fotógrafo".
Ao lado das memórias disparadas pelas imagens de Augustine, vem a lembrança do belo livro de Didi-Huberman sobre a inconografia fotográfica da Salpêtrière: Invention de l'hystérie - Charcot et l'iconographie photographique de la Salpêtrière, e uma confissão pessoal: Augustine foi uma das minhas heroínas de juventude, em tempos de estudante de psicologia. A sua presença em minha memória é ao mesmo tempo um golpe narcísico, uma mordida do tempo, mas também uma pequena vitória da modernidade e da persistência dessas subjetividades que hoje parecem cada vez mais afastadas de nós, especialmente quando lidamos com os regimes de visibilidade progressivamente estendidos dos reality shows, blogs e fotologs.
Ao lado das memórias disparadas pelas imagens de Augustine, vem a lembrança do belo livro de Didi-Huberman sobre a inconografia fotográfica da Salpêtrière: Invention de l'hystérie - Charcot et l'iconographie photographique de la Salpêtrière, e uma confissão pessoal: Augustine foi uma das minhas heroínas de juventude, em tempos de estudante de psicologia. A sua presença em minha memória é ao mesmo tempo um golpe narcísico, uma mordida do tempo, mas também uma pequena vitória da modernidade e da persistência dessas subjetividades que hoje parecem cada vez mais afastadas de nós, especialmente quando lidamos com os regimes de visibilidade progressivamente estendidos dos reality shows, blogs e fotologs.
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