sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Medo e espetáculo


London, Metro

"The Passion to be reckoned upon, is Fear" (Hobbes, Leviathan)
No último post mencionei a relação entre espectáulco e medo, retomada por Jonathan Crary do Império (Record, 2001) de Negri e Hardt. Voltei a este livro em busca das passagens que tratam disso e compartilho aqui, com grifo meu:
"A sociedade do espetáculo governa com uma arma antiquíssima. Hobbes reconheceu há muito tempo que, para a dominação efetiva, "a Paixão a ser examinada é o Medo". Para Hobbes, é o medo que une e assegura a ordem social, e ainda hoje o medo é o mecanismo principal que enche a sociedade do espetáculo. Embora o espetáculo pareça funcionar por meio do desejo e do prazer (o desejo de mercadorias e o prazer do consumo), ele realmente funciona pela comunicação do medo - ou ainda, o espetáculo cria formas de desejo e prazer intimamente casadas ao medo" (p. 344).
"O que está por trás das diversas políticas das novas segmentações é uma política de comunicação. Como argumentamos antes, o conteúdo fundamental das informações que as enormes empresas de comunicação apresentam é o medo. O constante medo da pobreza e a ansiedade sobre o futuro são as chaves para criar entre os pobres uma disputa pelo trabalho e manter o conflito no proletariado imperial. O medo é a garantia definitiva das novas segmentações" (p. 360)

A frase em grifo é fundamental para se entender as ambiguidades das novas formas de vigilância na atualidade e suas relações com o desejo e o prazer. Tais ambiguidades podem sempre ser apropriadas pelo controle, como inscreve cinicamente o selo "Sorria, você está sendo filmado". Mas são essas mesmas ambiguidades que constituem, contudo, o território instável e intersticial de onde podem emergir as resistências e criações possíveis.

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