Acabo de ler um pequeno artigo do Jonathan Crary sobre segurança e violência na América após o atentado de 11 de setembro de 2001 ("Conjurations of Security". Interventions, vol 6(3), 2004). Ressalto dois argumentos que me interessaram especialmente, uma vez que incrementam as pistas para o meu empenho em pensar conjuntamente os circuitos do espetáculo, do entretenimento, do voyeurismo e do prazer e os circuitos do controle e da vigilância. O primeiro argumento é mais amplo e emprestado do Negri e do Hardt: no Império, o espetáculo não funciona apenas pelo desejo de mercadorias e o prazer do consumo, mas principalmente pela comunicação do medo. O segundo argumento, mais específico e muito oportuno, mostra o quanto há de aparência e denegação no caráter exterior, estrangeiro e bárbaro que os Estados Unidos atribuem aos ataques suicidas. Crary chama a atenção para a inconfessa proximidade entre estes e os assassinos suicidas norte-americanos e seus homicídios em massa que se tornaram especialmente recorrentes a partir dos anos 1980. Diferentemente dos primeiros, tais ataques suicidas domésticos, diz Crary, são "tolerados como um fenômeno aberrante e inexplicável". Prossegue: "But it is the monsters from elsewhere, from outside that we are told to fear most".
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