Acabo de voltar de uma breve viagem a Europa, intercalando percursos acadêmicos e deambulações em ritmo de férias. Seguindo o exemplo de um amigo querido ;-), fiz algumas fotos do que vi sobre vigilância e visibilidade por onde passei, mas infelizmente o cartão da minha máquina pifou e ainda estou tentando recuperá-lo. De todo modo, vou colocando aqui algumas impressões. Uma primeira surpresa foi saber que a Holanda, conhecida por suas políticas relativamente liberais de tolerância, é um dos países que mais tem investido na vigilância pública. O mesmo país que inventou a fórmula televisiva da vigilância como espetáculo - o programa Big Brother - não é menos engenhoso nos dispositivos de vigilância pública. Um deles, utilizado numa cidade de 180.000 habitantes, Groningue, consiste num sistema de videovigilância com um software de análise de som integrado. O software, supostamente, detecta sons de "agressões" e "medo" e, em princípio, os distingue de barulhos "inofensivos", soando o alarme apenas em caso de "perigo real". Na prática, claro, a precisão não é tão fina, e o alarme das câmeras por vezes é acionado por barulhos que não representam nenhum risco real. Uma outra engenhoca bastante opressiva, chamada "mosquito", é um sistema de emissão de ondas de ultrasom que em princípio só são audíveis pelos menores de 25 anos (!). Os mosquitos anti-jovens são usados em Rotterdam desde 2006 em locais de aglomeração juvenil, como estações de metrô e galerias comerciais, e em bairros ditos perigosos. São conhecidos os similares dessas máquinas, usadas para espantar mosquito, mas a sua adaptação para espantar jovens é aterradora. Em Amsterdam, um novo detector de memória pretende substituir o velho detector de mentiras a partir do próximo ano. O dispositivo deverá detectar reações emocionais a partir da tensão da pele e da respiração, indicando se o suspeito já conhece ou não as informações que lhe são interrogadas. A surpresa com toda essa maquinaria de vigilância na Holanda me foi ainda maior pelo seu contraste com a minha experiência cotidiana, que apesar de muito breve e estrangeira, pareceu, ao menos em Amsterdam, que o controle de acesso a metrôs e outros serviços, bem como a videovigilância, são aparentemente bem menos ostensivos que em cidades como Paris e Madrid.