domingo, 30 de dezembro de 2007

Courbet, erotismo e fotografia


Da belíssima exposição de Gustave Courbet no Grand Palais, duas notas que interessam à temática deste blog. Primeiro, a relação entre o erotismo de Courbet e a fotografia, como se pode notar no quadro A origem do mundo (1866) e nas Photographies obscènes pour stéréoscope, de Auguste Belloc (1860). A segunda é a "elevação" do cotidiano e de personagens anônimos à representação em grandes formatos, até então reservados a temas e personagens de notoriedade histórica. Cotidiano que vai se tornando mais íntimo à medida em que os temas vão se tornando mais mundanos e associados à vida moderna das grandes cidades (o que coincide com a mudança de Courbet para Paris), revelando a conexão entre intimidade e urbanidade.

Portrait de Charles Beaudelaire, G. Courbet

Mapa mundial da privacidade


O grupo Privacy International acaba de divulgar um mapa que reflete o estado de coisas sobre proteção à privacidade no mundo, o 2007 International Privacy Ranking. Na União Européia, a França e O Reino Unido ocupam os piores lugares (isto é, tem os piores índices de proteção à privacidade). Fora da União Européia, no Ranking classificado de "Internacional", o Canadá e a Argentina ocupam os dois melhores lugares, consecutivamente, o Brasil ocupa o décimo e os EUA o décimo quarto, num total de 20 países. Os três piores lugares ainda dessa categoria são a Russia, a China e a Malásia, nesta ordem. Esses três países, juntamente com o Reino Unido e os Estados Unidos são classificados como "Sociedades de vigilância endêmica" (em preto no mapa acima). O Brasil ocupa a faixa vermelha do mapa que designa "Systemic failure to uphold safeguards". Num quadro que reúne os piores resultados dos países em 13 categorias, o Brasil só figura em uma delas, a de Vigilância médica, financeira e de movimento. Segue abaixo uma descrição mais detalhada sobre o Brasil, que pode ser consultada na íntegra neste link:
  • Constitutional protection ensured in 1988 constitution; recent court cases have resulted in a fragmented protection so that bank records are protected but databases aren't necessarily; and stored emails as well
  • No data privacy law but there is one under consideration
  • Can not force a correction of data
  • Civil code protects privacy, but with exemptions for law enforcement; and no regulatory commission
  • Protects right to privacy of children under 1990 law
  • Test for interception is relatively simplistic
  • Id law requires ID for public and private sector use, but it has not been implemented; private sector use of biometrics is growing
  • Recent controversy over censoring Youtube
  • Bank records are protected under the constitution, and warrants are required
  • Growing concerns about workplace surveillance, led to a labour court decision saying monitoring is illegal, unless a court order is issued, but protections do not apply to corporate email accounts; video monitoring is illegal in recent court decision
  • Interception for serious crime; but illegal wiretapping continues, and concerns that the content-industry is spying on Brazilian networks without warrants
  • Access to traffic data is not protected under privacy regulations according to the superior court of justice; and proposed law for identification for access did fail, but requires ISPs to identify illegal conduct to the police
  • Extensive travel surveillance on roads with RFID with poor privacy protections

sábado, 29 de dezembro de 2007

CCTV management


Assim como os vigias, inspetores, alarmes, sentinelas e relógios de ponto eram a um só tempo uma forma de garantir a ordem, a disciplina e a produtividade das linhas de montagem industriais, os sistemas de CCTV vêm sendo cada vez mais usados, para além dos fins de segurança e prevenção de crime, para avaliar e aumentar a performance das equipes de trabalho, controlar as suas condições internas de segurança, risco e saúde, monitorar o fluxo da produção e o andamento dos serviços de modo a planejar intervenções e treinamentos estratégicos. Um bom exemplo dessa incorporação da videovigilância ao management e à performance no trabalho e na produção pós-industrial é o CCTV Users Guide for Shopping Places:
"The guide tells shopping centre managers that there are advantages to installing CCTV apart from security and crime prevention, including commercial benefits, such as measuring footfall, flows and hotspots; monitoring or managing staff performance, health and safety issues and providing examples for training and development, or dealing with insurance claims. It also says CCTV can be useful in monitoring equipment, such as fire alarms and other essential items, in the event of malfunction or alarm conditions".

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Entre contemplação, voyeurismo e espionagem


Imagem do Ecrans


O centro de arte contemporânea, La ferme du buisson, sedia, em fevereiro de 2008, a exposição Regard-Caméra, portrait de l’artiste en spectateur. Sob a questão "Comment être témoin et acteur du monde dans lequel on vit tout en restant chez soi ?", a exposição reúne trabalhos de artistas de diferentes localidades. "Leurs oeuvres nous renvoient à notre propre position de spectateur dans l'exposition : entre contemplation, voyeurisme et espionnage, entre distance et tentative d'appropriation." Além da exposição coletiva, há uma chamada para que "qualquer um" envie fotografias ou filmes (de no máximo 3 min.) sod o título: "E você, o que vê da sua janela?". As imagens selecionadas serão exibidas na soirée "Da sua janela" ao longo da exposição.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

O banco de trás sob vigilância


O novo carro da Nissan -o Forum - tem entre as suas mil e uma utilidades um sistema de videovigilância que permite visualizar o que se passa no banco de trás e acionar um sistema de alto-falante para se comunicar com os passageiros. O serviço foi concebido para que os pais possam controlar os filhos, que costumam fazer do banco de trás um campo de batalha ;-). Além disso, o Forum possui um sistema de visualização panorâmica do exterior (around view monitor). A videovigilância integrando o rol de acessórios-fetiche dos carros com "estilo". Descrição da cyberpresse.ca:

"Les parents peuvent quand même garder l'oeil sur leur progéniture grâce à un système de vidéosurveillance. L'écran du tableau de bord leur permet de voir ce qui se passe à l'arrière puisque des caméras sont montées dans le pavillon aux deuxième et troisième rangées. Et si les choses se corsent, le conducteur n'a qu'à appuyer sur le bouton «arrêt de jeu» logé sur le volant. Cette commande permet de couper le son de tous les appareils audio du véhicule et de diffuser sa voix dans les haut-parleurs.
Mais avec la panoplie d'équipements et de technologies de pointe du Forum, y compris le système AVM (Around View Monitor) qui offre une vue panoramique de l'extérieur du véhicule ainsi que du Media System de BoseMD qui allie des fonctions d'infodivertissement telles que le lecteur DVD, l'interface iPod, la musique stockée sur disque dur, la radio par satellite XM, le système de navigation et le système de téléphonie mains libres Bluetooth, tous les occupants auront de quoi s'occuper."

domingo, 23 de dezembro de 2007

Erice/Kiarostami Correspondences


Uma das boas coisas que vi em Paris: a exposição Víctor Erice / Abbas Kiarostami Correspondances no Beaubourg. Um belo diálogo em forma de cartas filmadas sobre as possibilidades e limites da imagem nas fronteiras entre o cinema, a fotografia, a instalação e a pintura. O lugar do espectador é constantemente reposicionado nos diversos trabalhos da exposição. Uma exposição que exige tempo e percuso paciente.
« Je crois à un cinéma qui donne plus de possibilités et de temps à son spectateur. Un cinéma mi-fabriqué, un cinéma inachevé qui se complète avec l'esprit créatif du spectateur. » « Il faut savoir aussi qu'une histoire doit avoir des trous, des cases vides, comme dans les mots croisés, et que c'est au spectateur de les combler ... Il faut que le réalisateur soit aussi le spectateur de son propre film » (Abbas Kiarostami)

Ainda Kiarostami a propósito da infância, um dos temas da exposição, presente, entre outros, na instalação Ten minutes older (ver foto abaixo):
"Se elas [as crianças] não podem nos compreender, é porque temos um ponto fraco: não conseguimos produzir um pensamento simples. E quando o cinema assume um tom sentencioso, amargo, é porque não consegue se exprimir".

Abbas Kiarostami, Ten minutes older Installation

sábado, 22 de dezembro de 2007

Viagem, Holanda e Big Brother

Acabo de voltar de uma breve viagem a Europa, intercalando percursos acadêmicos e deambulações em ritmo de férias. Seguindo o exemplo de um amigo querido ;-), fiz algumas fotos do que vi sobre vigilância e visibilidade por onde passei, mas infelizmente o cartão da minha máquina pifou e ainda estou tentando recuperá-lo. De todo modo, vou colocando aqui algumas impressões. Uma primeira surpresa foi saber que a Holanda, conhecida por suas políticas relativamente liberais de tolerância, é um dos países que mais tem investido na vigilância pública. O mesmo país que inventou a fórmula televisiva da vigilância como espetáculo - o programa Big Brother - não é menos engenhoso nos dispositivos de vigilância pública. Um deles, utilizado numa cidade de 180.000 habitantes, Groningue, consiste num sistema de videovigilância com um software de análise de som integrado. O software, supostamente, detecta sons de "agressões" e "medo" e, em princípio, os distingue de barulhos "inofensivos", soando o alarme apenas em caso de "perigo real". Na prática, claro, a precisão não é tão fina, e o alarme das câmeras por vezes é acionado por barulhos que não representam nenhum risco real. Uma outra engenhoca bastante opressiva, chamada "mosquito", é um sistema de emissão de ondas de ultrasom que em princípio só são audíveis pelos menores de 25 anos (!). Os mosquitos anti-jovens são usados em Rotterdam desde 2006 em locais de aglomeração juvenil, como estações de metrô e galerias comerciais, e em bairros ditos perigosos. São conhecidos os similares dessas máquinas, usadas para espantar mosquito, mas a sua adaptação para espantar jovens é aterradora. Em Amsterdam, um novo detector de memória pretende substituir o velho detector de mentiras a partir do próximo ano. O dispositivo deverá detectar reações emocionais a partir da tensão da pele e da respiração, indicando se o suspeito já conhece ou não as informações que lhe são interrogadas. A surpresa com toda essa maquinaria de vigilância na Holanda me foi ainda maior pelo seu contraste com a minha experiência cotidiana, que apesar de muito breve e estrangeira, pareceu, ao menos em Amsterdam, que o controle de acesso a metrôs e outros serviços, bem como a videovigilância, são aparentemente bem menos ostensivos que em cidades como Paris e Madrid.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Alex Galloway e Zemos98

Entrevista com Alex Galloway, criador do software de vigilância de dados Carnivore e autor do livro Protocol: How Control Exists After Decentralization (MIT, 2004), entre outros. Algoritmo, controle, rede e games são alguns dos temas da entrevista, que está no site do Festival Zemos98 - Regresso al futuro, onde há diversos outros textos, trabalhos e entrevistas interessantes. Parte desses textos integram o último livro editado pelo Coletivo Panel de Control - Interruptores críticos para una sociedad vigilada, que está integralmente disponível no site.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Busca visual e vigilância


Mais um exemplo da progressiva extensão de dispositivos de vigilância a práticas cotidianas e ao "grande público": um mecanismo de busca visual - Riya - usa tecnologias de reconhecimento de face para classificar e indexar fotos de pessoas. Detalhes no Technology Review, que menciona um outro serviço - o MyHeritage - que usa o mesmo dispositivo para classificação e busca de fotos pessoais e de família, com diversos serviços incluídos. A foto abaixo é do MyHeritage

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Robô vigilante


A empresa janonesa Alsok, especializada em produtos de segurança, lança um robô programado para reconhecimento e identificação facial, capaz de reconhecer "fugitivos e terroristas procurados". O robô RIBOGU Q foi projetado para "fazer a ronda" em locais com grande fluxo de pessoas, como aeroportos, estações de metrô, centros comerciais, e rastrear com a sua câmera integrada os rostos dos passantes. A sua "memória" deve armazenar os dados de pessoas procuradas, permitindo que ele as identifique quando cruzarem o seu caminho. Se isso acontecer, o robô automaticamente fotografa a pessoa e envia a imagem, por meio de redes sem fio, aos serviços de segurança locais. Mas o robô também deve fotografar e transmitir a imagem daqueles que "se assemelhem" aos procurados - não é difícil imaginar os perfis discriminatórios e os tons de cor, raça e religião que terão esses bancos de imagens. A velha antropometria criminal em nova roupagem robótica e digital.

sábado, 1 de dezembro de 2007

TV para celular no Brasil

Acaba de ser lançado o Humanóides, primeiro canal brasileiro de TV para celular, na Oi TV Móvel (obrigada pela informação, Rosane!). Vejam imagem e link abaixo.