domingo, 18 de novembro de 2012

Harun Farocki e a Política das Imagens





















Convidamos a todos para o evento Harun Farocki e a Política das Imagens.


Diálogos, olhares, reflexões e experiências em torno da obra de Harun Farocki e seus temas: imagem, olhar, máquinas, guerra, trabalho, revolução, política, vida, controle, consumo, entre outros.

O evento compreende duas conferências de Harun Farocki, uma mostra de seus filmes, acompanhada de um curso com especialistas em sua obra, e uma oficina em parceria com a artista Antje Ehmann.

Este evento é mais uma realização do Museu de Arte do Rio, através de seu programa “MAR na Academia”, em parceria com a UFRJ (EBA/PPGAV, MediaLab.UFRJ, ECO-PÓS), a UFF (Departamento de Cinema e Vídeo, Laboratório Kumã), o Instituto Goethe, a Cinemateca do MAM/RJ, o Centro de Artes Hélio Oiticica e a Escola de Cinema Darcy Ribeiro.

Organização: Fernanda Bruno (MediaLab.UFRJ) e Tadeu Capistrano (PPGAV/UFRJ).

Programação completa no site do evento. Acompanhe também a página no Facebook.

http://harunfarockieapoliticadasimagens.wordpress.com/

MediaLab.UFRJ













Um laboratório experimental de pesquisa talvez seja a primeira e melhor definição do MediaLab.UFRJ. Certamente, é uma definição relativamente imprecisa, como o termo "experimental" quer dizer neste caso. Não a prática laboratorial consagrada pela ciência moderna, também chamada 'experimental', mas o laboratório que se torna possível a partir dos limites deste modelo de conhecimento e da rachadura das fronteiras que o constituíam. Um laboratório como lugar de experimentação de mídias, dispositivos e métodos para a produção de conhecimento. Produção que não pode estar separada da sua divulgação, compartilhamento e distribuição. Com esta perspectiva, estamos elaborando duas plataformas iniciais: Cartografia de Controvérsias e Livro Livre. Nossos 'campos' de investigação são o heterogêneo território das humanidades e das redes sociotécnicas. Visite o blog do MediaLab.UFRJ para acompanhar as pesquisas em curso.

sábado, 13 de outubro de 2012

Aula Inaugural no Instituto de Psicologia/UFRJ

Revendo e coletando imagens do Hospício Nacional dos Alienados para a aula inaugural que darei esta semana no Instituto de Psicologia da UFRJ. É fascinante o aspecto espectral dos loucos nessas imagens. Tenho a sensação de que não terei habitado esse lugar onde estudo, leciono e vivo desde 1987 enquanto não for capaz de escrever sobre essas imagens, sobre o assombro e fascínio que elas me causam, sobre as vidas infames que elas encerram e que parecem ainda querer fugir delas.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Rede Latino-Americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade e







A Rede Latino-Americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade foi criada em 2009 com o objetivo de fomentar intercâmbios e divulgação de pesquisas na América Latina sobre os temas que dão título à rede. Está on-line o site da rede, onde há infomações sobre publicações, projetos, eventos,  pesquisadores etc. Participações e parcerias são bem vindas!

Simpósio Internacional A Vida Secreta dos Objetos: Medialidades, Materialidades, Temporalidades










Os objetos tem uma vida secreta, clandestina, desprezada por boa parte das ciências humanas e sociais, com louváveis exceções que felizmente vêm se ampliando nos últimos 30 anos. O Simpósio “A Vida Secreta dos Objetos: Medialidades, Materialidades, Temporalidades” coloca em discussão a clandestinidade dos objetos no âmbito dos estudos em "humanidades" e acontece de 01 a 03 de agosto no MAM do Rio de Janeiro, com edições em São Paulo (30-31 de julho), Salvador (6 de agosto) e Fortaleza (7 e 8 de agosto). Veja abaixo a lista dos participantes no Rio de Janeiro e detalhes da programação no site do evento.




sábado, 12 de maio de 2012

Uniformes inteligentes: vigilância e educação

Recentemente, a prefeitura de Vitória da Conquista, Bahia, anunciou que os uniformes escolares da rede municipal seriam monitorados por etiquetas de rádio-frequência, de modo a notificar automaticamente os  pais dos alunos no caso de ausência. Conform a matéria no site da prefeitura: "As escolas municipais de Vitória da Conquista são as primeiras do Brasil a adotar o fardamento que facilita a comunicação entre as unidades de ensino e as famílias". A revista ComCiência do Labjor/Unicamp me entrevistou numa matéria sobre o tema. Reproduzo a entrevista na íntegra.
1. ComCiência: Qual a sua opinião sobre este fato?
Fernanda Bruno: O fato merece discussão. Na realidade, o uso de etiquetas RFID em uniformes escolares vem ampliar a presença crescente de tecnologias de vigilância e controle nas escolas. Projetos de lei requerem câmeras de vigilância em creches e escolas públicas. No setor privado, há creches que oferecem, entre suas “qualidades e serviços”, o uso de vídeo-vigilância com transmissão direta aos pais. Fora do Brasil, no Reino Unido por exemplo, já há experiências-piloto com uso de rfid em uniformes escolares.
Todos sabemos que a escola tradicionalmente utiliza uma série de técnicas e procedimentos para controlar seja o comportamento, seja a presença, seja o tempo, seja o desempenho dos alunos: inspetores, cadernetas, avaliações, campainhas, filas, exercícios. Estes procedimentos já estiveram inseridos num projeto disciplinar que orientou boa parte da pedagogia escolar durante anos. A escola vem passando por uma série de reformas e crises em todo o mundo e uma questão que eu endereçaria às instituições escolares é acerca do projeto educacional que sustenta tais medidas. Esta questão me parece importante porque, ao menos no material publicitário e jornalístico sobre o tema, tais dispositivos são em geral tratados como instrumentos neutros sem qualquer efeito além daqueles previstos pelas “boas intenções” de seus mestres. Assim, além de não se problematizar o vínculo histórico desses dispositivos com mecanismos policiais e/ou militares, não se pergunta sobre o sentido da presença desse gênero de dispositivo na escola. No caso da segurança pública por exemplo, ainda que o uso de câmeras de vigilância também seja questionável, temos alguma idéia acerca do projeto (no caso, de segurança) no qual eles estão inseridos. Mas qual é o projeto pedagógico que justifica inserir tais dispositivos na escola? A pergunta é tão mais relevante quando se pretende com isso “resolver” questões relativas ao comportamento, à presença, à relação da escola com os pais, entre outras. Por exemplo, qual é o sentido educacional e pedagógico de se utilizar câmeras de vigilância como instrumento disciplinar, visando coibir atos de vandalismo ou violência na escola? Por que a escola vê neste dispositivo um método mais interessante – do ponto de vista educacional – do que outros meios tradicionalmente usados? Essas questões indicam a necessidade de haver uma reflexão no plano educacional, pedagógico e não apenas num suposto – e inexistente – plano puramente técnico. É preciso sempre lembrar que esses planos – técnico e educacional – não estão jamais separados e devem ser pensados em suas interseções.
2. ComCiência: Quais os problemas de se tentar controlar a evasão escolar ou "facilitar a comunicação" entre escolas e pais colocando um código de barras nos uniformes dos alunos?
Fernanda Bruno: Considerando a questão específica dos chamados “uniformes inteligentes” com indentificação por radiofrequência (RFID), há também uma série de problemas em jogo. Vou me concentrar em apenas um deles, destacado nas matérias que li sobre o tema e retomado na sua pergunta. Um dos argumentos centrais de justificativa deste sistema é o de que as etiquetas RFID no uniforme possibilitariam, além de um controle mais efetivo da frequência dos alunos, uma melhor comunicação entre a escola e os pais que, segundo o site da prefeitura de Vitória da Conquista, poderão acompanhar melhor o dia a dia dos filhos na escola. O chip envia automaticamente uma mensagem ao pai informando que o aluno entrou na escola ou não, caso o aluno não passe pelo sensor até 20 minutos após o horário de entrada.
Uma primeira questão, mais evidente, é se este sistema de controle é de fato o melhor meio, em termos educacionais, de garantir a frequencia dos alunos na escola. Tenho sérias dúvidas quanto a isso e me parece que outras medidas, anunciadas no mesmo site da prefeitura – como transporte escolar gratuito e universalizado, merenda escolar bem cuidada, bom plano de carreira para os professores – sejam mais interessantes em diversos sentidos.
Mas o ponto que gostaria de discutir é outro, o da facilitação da comunicação, ou “interação” entre a família e a unidade escolar, para retomar os termos usados pelo site da prefeitura. Parece-me bastante problemático estender aos pais, em tempo real e de forma automatizada, a função de controlar a entrada e permanência dos alunos na escola. Certamente, a escola deve se comunicar com os pais seja em caso de falta, seja no caso de qualquer outro problema relativo ao aluno. Mas o “filtro” da escola, como instituição responsável pela educação escolar, é fundamental. Ou seja, uma coisa é os pais receberem da escola um comunicado que é fruto de uma “leitura” ou uma perspectiva desta instituição acerca de uma ausência, um problema de rendimento, de comportamento, ou qualquer outra questão. Quero dizer que a mediação da escola nessa comunicação é fundamental. Todos sabemos que há muitas maneiras de se “matar aula”, algumas mais e outras menos preocupantes. Cabe à escola avaliar quando e porque deve comunicar algo aos pais e não delegar ao “uniforme inteligente” essa tarefa, que por sua vez, requer dos pais uma vigilância própria a inspetores escolares. Quando o uniforme informa automaticamente e em tempo real a ausência do aluno, quem está fazendo essa mediação é o RFID, requerendo que os pais ajam, em alguma medida, como inspetores escolares, o que é muito problemático. Além disso, a margem de negociação entre os alunos e a escola, margem fundamental para o processo educacional, diminui drasticamente. Comparemos com a caderneta, outro instrumento de controle da frequencia escolar, do comportamento, do  desempenho; e também meio de comunicação com os pais. Mas mesmo na disciplinar caderneta, já em desuso em diversas escolas devido à forte e problemática mistura de comunicação e controle nela implicada, ainda há tanto uma margem para a negociação entre o aluno e a escola (quantos de nós, educados em sistemas similares, não negociou com professores ou funcionários notificações na caderneta?), quanto a mediação da escola – o professor, o diretor, o funcionário – na comunicação com os pais. O uniforme inteligente dispensa essas duas vias de negociação e de mediação tão importantes. Algo similar se passa com as escolas infantis que colocam câmeras para que os pais possam acompanhar o dia a dia dos seus filhos e se assegurar de que eles estão sendo bem tratados pelos professores e funcionários. O discurso que busca legitimar essa prática vai desde a feliz oferta de “tudo ver” e “não perder nem um segundo da vida do seu filho” até a aterrorizante garantia de que o seu filho não está sedo maltratado na escola. Mais uma vez, é claro que a escola deve zelar pela segurança das crianças, assim como deve manter diálogo constante com os pais. Esses por sua vez, também precisam ter uma relação de confiança com a escola. Entretanto, não é por meio dessa promessa de “transparência” que essas relações serão garantidas. Confiar, inclusive, implica não ver tudo, não saber tudo, não controlar tudo. É no mínimo inquietante que pais e escolas queiram educar crianças dizendo a elas que só estarão seguras e bem cuidadas se forem todo o tempo controladas e visíveis.

Privacidade 2.0: as relações eu-outro nas redes sociais


Na próxima semana, estarei participando do I Seminário do NEIFECS: Clínica de situações contemporâneas e interdisciplinaridade na UFRJ. Farei uma conferência no dia 16/05 às 17h00 na mesa "A relação eu - outro no contemporâneo" e me pediram para explorar, neste domínio, as práticas de exposição do eu e do outro na Internet. Espero postar algumas notas sobre a minha fala adiante, mas aproveito para inserir outras notas, passadas, que surgiram de uma outra demanda em torno deste mesmo tema. No fim de 2010, a Raquel Recuero me pediu para dar uns "pitacos" sobre estas práticas de exposição na Internet, levando em conta um incidente envolvendo a divulgação por twitcam de imagens de adolescentes transando.
Recuperei a "entrevista" que fizemos por e-mail e reproduzo abaixo:

Raquel Recuero: Na cultura atual vemos uma valorização do "público": Big Brother com sexo ao vivo, participantes do BBB e VJs da MTV que são famosos em redes sociais, vídeos de sexo de celebridades ... tudo é escancarado, tudo é ao vivo e tudo é público. Ao mesmo tempo, há uma imensa preocupação para com os adolescentes que me parecem, reproduzem esses valores, nesses sites de rede social. Como vês isso?

Fernanda Bruno: A questão tem muitos caminhos de resposta, pois há inúmeros elementos envolvidos nesse fenômeno de publicização ou exposição da vida cotidiana, íntima, privada etc.
Vou começar pela constatação mais evidente, já anunciada por diversos pesquisadores deste tema: as fronteiras entre o público e o privado estão em deslocamento. Mas o que não é tão evidente é que este deslocamento não é apenas no sentido de publicizar o que antes era resguardado no âmbito privado, mas no sentido de ressignificar esses domínios e, mais importante, pensá-los segundo uma outra topologia. Que topologia seria essa? Uma topologia que não delimita dois pólos (dentro/fora, aberto/fechado, exposto/secreto etc), mas que comporta múltiplas camadas, níveis, escalas. Ou seja: cada vez mais deixamos de pensar a separação público/privado de forma estanque para pensarmos em múltiplos níveis e modos de privacidade, assim como em múltiplos níveis e modos de publicização. Neste sentido, as opções de controle da privacidade/publicidade que encontramos nas redes sociais é uma expressão desta topologia e desta experiência. Regulamos, modulamos a nossa privacidade cotidianamente e selecionamos o que e como desejamos expor (ou não expor) para públicos ou audiências diferentes. Claro que no limite isso sempre existiu (ou melhor, desde que nossa experiência vital, política, institucional e espacial passou a ser orientada segundo essa distinção público/privado), mas agora essa modulação é extremamente corriqueira e intensificada.
Essa é a primeira observação mais geral e importante para encaminhar a nossa conversa. Paralelamente e atrelada a essa mudança topológica (que é também uma transformação no modo como experimentamos nossa vida privada e pública), eu adiciono 3 elementos, para ser breve:
I) Vivemos uma sobreposição de sentidos e valorações próprios à convivência de uma cultura da celebridade e do espetáculo (mais antiga, considerando nossa herança mais recente) com a cibercultura. A cultura da celebridade e do espetáculo nos legou um alto apreço pela visibilidade midiática, que, como sabemos, atestava reconhecimento social, afetivo, financeiro etc. Mas fazia parte dessa cultura e desse valor um certo princípio de escassez que de algum modo dizia “imaginariamente” que essa visibilidade midiática era para poucos, para um seleto grupo de eleitos. A cibercultura vem bagunçar esse regime de visibilidade e introduz outras formas, dispositivos, alcances para a visibilidade, agora supostamente “para todos”, mas não da mesma forma nem com o mesmo sentido e alcance. O interessante da cibercultura é que ela acolhe diferentes  regimes de visibilidade, e nela há tanto a reprodução da visibilidade midiática tradicional e sua lógica da celebridade, quanto outras vias de visibilidade cujas ações coletivas, políticas, cognitivas, estéticas escapam dessa lógica e, muitas vezes, até se fundam no anonimato dos agentes ou atores em jogo. Mas no tipo de fenômeno que você apontou, vejo nele um “locus” onde a cultura da celebridade e a possibilidade de produção, emissão e distribuição de conteúdo pelo usuário comum se retroalimentam. Creio que muitos adolescentes usam as novas mídias segundo essa lógica, buscando uma visibilidade que ateste um pertencimento social e afetivo que mimetizam de algum modo a celebridade. E no âmbito das redes sociais e da cibercultura, parte dessa visibilidade e desse pertencimento se conquista pela exposição (maior ou menor, segundos os níveis e camadas de que falei) da privacidade e da intimidade. Ou seja, vemos aqui a exposição seletiva da intimidade como motor de sociabilidade. O que também vemos em talks shows e reality shows na mídia de massa (embora os níveis de seleção, reconhecimento e pertencimento variem). Concluindo esse ponto, um dos elementos presentes nos fenômenos de publicização que você apontou está relacionado a essa sobreposição da lógica da celebridade com a lógica da sociabilidade pautada pela publicização seletiva (modulada, editada) da intimidade.
II) Um segundo elemento concerne à expectativa de exposição pública presente nas redes sociais (e outras plataformas digitais) ou em situações/ambientes que impliquem alguma forma de registro audiovisual (o que se tornou quase que onipresente com os nossos dispositivos móveis c/ câmera e áudio acoplados). Dentro dos padrões “convencionais” de um espaço que se entende público (praça, rua), as pessoas têm uma idéia relativamente clara e muito ancorada no contexto e na situação (no aqui e agora) do grau de exposição a que estão sujeitas – e modulam suas ações tendo em vista essa exposição. A expectativa de exposição é, neste caso, relativamente coerente com os limites daquele espaço. Nas redes sociais, essa expectativa de exposição é mais difícil de se estabelecer e muitas vezes não coincide com a exposição a que de fato se está sujeito. Os tais controles de privacidade nas redes sociais são de algum modo uma tentativa de “concretizar” essa expectativa (o problema é que eles nem sempre são muito evidentes nem simples de manejar, o que faz com que muitos não os usem, como mostram certas pesquisas). O mesmo acontece no caso das festas e situações sociais com inúmeros celulares presentes. Toco neste ponto por conta do caso da transmissão via twitcam de sexo entre adolescentes que mencionou. A expectativa de exposição da intimidade de alguns dos “atores” presentes parece não ter incluído este transbordamento para as mídias sociais, o que torna o caso muito cruel e grave do ponto de vista ético. Que adolescentes tenham prazer em serem filmados e testemunhados por amigos enquanto transam não significa que eles desejem ser vistos por milhares de pessoas, por seus pais, professores, uma cidade inteira etc. Aí o problema ético é o da exposição do outro.
III) O último elemento toca neste prazer em ver e ser visto. Acho importante perceber que não há apenas um mimetismo da celebridade, mas há uma excitação e um erotismo nessa troca social apimentada por exposições moduladas da intimidade. Ver pitadas da intimidade do outro e ser visto em sua intimidade é hoje uma das “zonas erógenas”, para retomar um termo psicanalítico, da sociabilidade contemporânea. Não há nada de novo aí, mas agora  isso se tornou mais visível e cotidiano e há ainda poucas pesquisas sobre o tema no âmbito das redes sociais. Mas, importante, é preciso não confundir esse desejo e essa excitação positivamente experimentada com um desejo de ser exposto a uma publicização que não se escolheu, o que é muito grave.

Raquel retoma partes desta entrevista no texto Teens, Social Media, and Celebrity: Anatomy of an Incident publicado no DMLCentral.

A imagem deste post reproduz a do artigo citado. Image Credit: http://www.flickr.com/photos/mburpee/4030741659/

A materialidade dos enunciados: Foucault e Teoria Ator-Rede


Um das minhas aulas no curso "A vida secreta dos objetos: tecnologia, cognição e materialidades da comunicação" se propôs a estabelecer um diálogo entre Foucault e a Teoria Ator-Rede. Abaixo, um trecho de A arqueologia do Saber (Foucault, 1987) sobre a materialidade dos enunciados:

"Poderíamos falar de enunciado se uma voz não o tivesse enunciado, se uma superfície não registrasse seus signos, se ele não tivesse tomado corpo em um elemento sensível e se não tivesse deixado marca - apenas alguns instantes - em uma memória ou em um espaço? Poderíamos falar de um enunciado
como de uma figura ideal e silenciosa? O enunciado é sempre apresentado através de uma espessura material, mesmo dissimulada, mesmo se, apenas surgida, estiver condenada a se desvanecer. Além disso, o enunciado tem necessidade dessa materialidade; mas ela não lhe é dada em suplemento, uma vez bem estabelecidas todas as suas determinações: em parte, ela o constitui. Composta das mesmas palavras, carregada exatamente do mesmo sentido, mantida em sua identidade sintática e semântica, uma frase não constitui o mesmo enunciado se for articulada por alguém durante uma conversa, ou impressa em um romance; se foi escrita um dia, há séculos, e se reaparece agora em uma formulação oral. As coordenadas e o status material do enunciado fazem parte de seus caracteres intrínsecos."
...
"Essa materialidade repetível que caracteriza a função enunciativa faz aparecer o enunciado como um objeto específico e paradoxal, mas também como um objeto entre os que os homens produzem, manipulam, utilizam, transformam, trocam, combinam, decompõem e recompõem, eventualmente destroem. Ao invés de ser uma coisa dita de forma definitiva - e perdida no passado, como a decisão de uma batalha, uma catástrofe geológica ou a morte de um rei -, o enunciado, ao mesmo tempo que surge em sua materialidade, aparece com um status, entra em redes, se coloca em campos de utilização, se oferece a transferências e a modificações possíveis, se integra era operações e em estratégias onde sua identidade se mantém ou se apaga. Assim, o enunciado circula, serve, se esquiva, permite ou impede a realização de um desejo, é dócil ou rebelde a interesses, entra na ordem das contestações e das lutas, torna-se tema de apropriação ou de rivalidade."

A vida secreta dos objetos: tecnologia, cognição e materialidades da comunicação


"A vida secreta dos objetos: tecnologia, cognição e materialidades da comunicação" é o título de um curso que estou ministrando na pós-graduação em comunicação e cultura da UFRJ, em parceria com os professores Erick Felinto (PPGCOM/UERJ) e Simone Sá (PPGCOM/UFF). A experiência de um curso coletivo envolvendo três professores e três programas de pós-graduacão em comunicação, além de muitos alunos, tem sido extremamente interessante.
Abaixo, a última versão do programa do curso, sempre "em construção". Tentarei atualizar  aqui as novas versões no caso de alguma alteração. A inspiração central deste curso foi o horizonte de realização de um colóquio previsto para o início de agosto de 2012. Em breve, postarei mais informações sobre o colóquio.
Ementa: 
O que os objetos têm a dizer (e fazer) ao pensamento? No recente campo da comunicação, a questão, que ecoa um imenso e antigo problema filosófico, só passou a ser enfrentada de modo mais sistemático a partir dos anos 1980, quando diferentes perspectivas retomam indagações que parte da tradição hermenêutica das humanidades obscureceu, tais como : o que é um meio e como se dão os processos de mediação?  Em que aspectos as materialidades tecnológicas informam mundos culturais e condicionam formas de cognição? De que modos a dimensão material da experiência se conjuga com as dimensões imateriais da cultura? Em que sentidos as categorias do humano, do pensamento, do corpo e dos sentidos se reconfiguram em face das nossas relações com os objetos e as entidades inumanas?
Tendo como eixo este conjunto de reflexões, este curso pretende discutir alguns autores desse campo de pesquisas recentes, bem como suas influências e alianças no âmbito mais amplo das ciências humanas e sociais.  Os quatro principais eixos de discussão serão: Teoria Ator-Rede (Bruno Latour e Michel Callon); Filosofia orientada aos objetos; Materialidades da Comunicação e Pós-humanismo. Retomaremos pontualmente, ainda, autores que constituem a matriz de problemas explorados nos três eixos, tais como Walter Benjamin, Michel Foucault, Gilbert Simondon. Focalizaremos, a partir dos autores e abordagens mencionados, as relações entre tecnologia, materialidade, conhecimento e discursos, tendo em vista as suas implicações para a revisão e proposição de teorias e metodologias no campo da comunicação.
Este curso será ministrado pelos professores Fernanda Bruno, Erick Felinto e Simone Pereira de Sá, constituindo uma parceria entre os PPGCOMs da UFRJ, UERJ e UFF.
Bibliografia Básica: 
Latour, B. Reflexão Sobre o Culto Moderno dos Deuses Fe(i)tiches. EDUSC, 2002.
____________ Reassembling the Social – An Introduction to Actor-Network-Theory. Oxford University Press, 2005.
_____________ Cogitamus: six lettres sur les humanités scientifiques. La Découverte, 2010.
Callon, M.; Lascoumes, P.; Barthe, Y. Acting in an Uncertain World: An Essay on Technical Democracy. MIT Press, 2009.
Akrich, M.; Callon, M.; Latour, B. (Orgs.). Sociologie de la Traduction: textes fondateurs. Paris: Mines Paris, 2006.
Michel Foucault. A Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1987.
_______________. A Ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 1996.
Gilbert Simondon. L’individuation psychique et collective. Aubier, 1989.
____________________. Du Mode d’Existence des Objets Techniques. 
Gumbrecht, Hans Ulrich - Produção de Presença - o que o sentido não consegue transmitir. Contraponto/PUC-Rio, 2010, Rio de Janeiro
Bryant, L.; Srnicek, N.; Harman, G. (eds.). The Speculative Turn: Continental Materialism and Realism. Re.Press, 2011.

PROGRAMA
15/03 - Apresentação Curso
22/03 – A vida secreta dos objetos. Um novo paradigma? [Introdução geral]
Professores responsáveis: Erick Felinto, Fernanda Bruno, Simone Pereira de Sá
TEXTO-AULA: Shaviro, Steven. The Universe of Things (texto retirado de seu blog, em http://www.shaviro.com/Blog/?p=893)
TEXTOS COMPLEMENTARES:
Bryant, L.; Srnicek, N.; Harman, G. (eds.). The Speculative Turn: Continental Materialism and Realism. Re.Press, 2011.
Gumbrecht, Hans Ulrich - Produção de Presença - o que o sentido não consegue transmitir. Contraponto/PUC-Rio, 2010, Rio de Janeiro
Akrich, M.; Callon, M.; Latour, B. (Orgs.). Sociologie de la Traduction: textes fondateurs. Paris: Mines Paris, 2006.
29/03 - A vida secreta dos objetos. Na contra-mão da hermenêutica I. [Benjamin]
Professor responsável: Erick Felinto 
TEXTO-AULA: “Sobre a Linguagem em Geral e Sobre a Linguagem dos Homens” – Walter Benjamin (em Escritos sobre Mito e Linguagem. São Paulo: Duas Cidades, 2011)
TEXTOS COMPLEMENTARES: Busch, Kathrin. “The Language of Things and the Magic of Language On Walter Benjamin’s Concept of Latent Potency”. In Transversal, n. 15, 2010.
12/04 - A vida secreta dos objetos. Na contra-mão da hermenêutica II. [Foucault]
Professor responsável: Fernanda Bruno
TEXTO-AULA: Foucault, M. Arqueologia do Saber: Cap. III.4 “Raridade, exterioridade, acúmulo” e CAP III. 5 “O a priori histórico e o arquivo”.
TEXTOS COMPLEMENTARES:
Nietzsche, F. A genealogia da Moral. São Paulo: Cia das Letras, 1998.
Foucault, M. Nietzsche, Freud, Marx. São Paulo: Princípio, 1997
_____________. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 1996
_____________. A hermenêutica do sujeito. São Paulo: Martins Fontes, 2006
Dreyfus, H. L. & Rabinow, P. Michel Foucault: Beyond Structuralism & Hermeneutics. Chicago: University of Chicago Press, 1982.
19/04 - O tempo dos objetos: Jamais fomos modernos. [Latour]
Professor responsável: Fernanda Bruno
TEXTO-AULA: Latour, B. Jamais Fomos Modernos. Rio de Janeiro: 34 letras, 1994.
TEXTOS COMPLEMENTARES:
Heidegger, M. “La question de la technique”. In: Essais et Conférences. Paris: Gallimard, (1958) 1990.
Latour, B. Reflexão Sobre o Culto Moderno dos Deuses Fe(i)tiches. EDUSC, 2002.
26/04 - Materialidades: teoria da mídia alemã [Kittler]
Professor responsável: Erick Felinto 
TEXTO-AULA: Winthrop-Young, Geoffrey & Gane, Nicholas. “Friedrich Kittler: an Introduction”. In Theory, Culture and Society, n. 23. 2006.
TEXTOS COMPLEMENTARES: Winthrop-Young, Geoffrey. “Media Theory”. In. Kittler and the Media. London: Polity, 2011.
03/05 – Materialidades: comunicação e presença [Gumbrecht]
Professor responsável: Simone Pereira de Sá; Erick Felinto
TEXTO-AULA: Introdução e caps “Para além do sentido: posições e conceitos em movimento” e “Epifania/prentificação/ Dêixis: futuros para as humanidades e as Artes.” do livro : “Produção de Presença - o que o sentido não consegue transmitir” - Gumbrecht, Hans Ulrich. Contraponto/PUC-Rio, 2010, Rio de Janeiro
TEXTOS COMPLEMENTARES: Gumbrecht, Hans Ulrich - Corpo e Forma. Ensaios para uma crítica não-hermenêutica. Org: João Cesar de Castro Rocha. Rio de Janeiro, EDUERJ, 1998;
Gumbrecht & PFEIFFER, Ludwig – Materialities of Communication. Stanford. Stanford Univ Press, 1994
Pereira, Vinicius Andrade - Reflexões sobre as materialidades dos meios: embodiment, afetividade e sensorialidade nas dinâmicas de comunicação das novas mídias. Revista Fronteiras VII(2): 93-101, mai-ago de 2006
10/05 – Materialidades: teoria ator-rede [M. Callon; B. Latour; J. Law]
Professor responsável: Fernanda Bruno
TEXTO-AULA: 
Latour, B. Reassembling the Social – An Introduction to Actor-Network-Theory. Oxford University Press, 2005.  Introdução e Parte I, Cap 3: Third Source of Uncertainty: Objects too Have Agency)
Callon, M.; Law, J. After the individual in society: lessons on collectivity from science,technology and society. In: Canadian Journal of Sociology, Spring, v22, i2, p165-82, 1997
TEXTOS COMPLEMENTARES: 
Latour, B. “Technology is society made durable”. In: LAW, J. (Org.). A sociology of monsters: essays on power, technology and domination. Londres: Routledge, 1991.
_________. “Les ‘vues’ de l’esprit: une introduction à l’anthropologie des sciences et des techniques”. In: BOUGNOUX, D. (Org) Textes essentiels – Sciences de l’Information et de la Communication. Paris : Larousse, 1993.
________. On interobjectivity. Mind, Culture, and Activity 3 4 (1996).  228-245.
17/05 – O tempo dos objetos: arqueologia da mídia. [Zielinski – Arqueologia da Mídia; Parrika]
Professor responsável: Erick Felinto 
TEXTO-AULA: Zielinski, Siegfried. “Introduction: the Idea of a Deep Time of the Media”. In: Deep Time of the Media: Toward an Archaeology of Hearing and Seeing by Technical Means. Cambridge: the MIT Press, 2006.
TEXTOS COMPLEMENTARES: Parikka, Jussi & Huhtamo, Erkki. “Introduction”. In: Media Archaeology: Approaches, Applications, and Implications. Berkeley: University of California Press, 2011.
24/05 - O tempo dos objetos: para além dos velhos e novos sentidos [Lisa Gitelman + Sterne]
Professores responsáveis: Erick Felinto e Simone Pereira de Sá
TEXTO-AULA: Gitelman, Lisa - Always already new – Media, History and the data of culture. Intro. (Media as Historical Subjects)  e parte 1 (The case of Phonographs – pg (25-88)
TEXTOS COMPLEMENTARES:
Sterne, Jonathan –  STERNE, Jonathan – The Audible Past. Cultural origins of sound reproduction. Duke University Press, Durham and London, 2003. Introd. e Cap 1  “Machines to hear for Them”. Pp 1-86
31/05 – Mediação: agência, delegação, tradução [Bruno Latour; Michel Serres]
Professor responsável: Fernanda Bruno
TEXTO-AULA: Latour, B. On Technical Mediation: philosophy, sociology, genealogy. Common Knowledge, n° 2, v. 3, Oxford University Press, 1994.
TEXTOS COMPLEMENTARES:
Latour, B. From Realpolitik to Dingpolitik: or How to Make Things Public
Serres, M. Luzes. São Paulo: Unimarco, 1999
__________. Theory of the Quasi-Object. In The Parasite. Londres: John Hopkins University Press, 1982.
21/06 – Mediação: uma filosofia do medium [S. Krämer]
Professor responsável: Erick Felinto 
TEXTO-AULA: Friesen, Norm & Hug, Theo. The Mediatic Turn: Exploring Concepts for Media Pedagogy. In: Lundby, K (org.). Mediatization: Concept, Changes, Consequences. New York: Peter Lang, 2009.
TEXTOS COMPLEMENTARES: Krämer, Sybille. “Does the Body Disappear? A Comment on Computer Generated Spaces”.
28/06 – Mediação: música e amadores [Sterne; Hennion]
Professor responsável: Simone Pereira de Sá e Fernanda Bruno
TEXTO-AULA:
Hennion, A. Music and Mediation: Towards a new Sociology of Music in The Cultural Study of Music: A Critical Introduction. 2002. M. Clayton, T. Herbert, R. Middleton eds. London: Routledge.
Sterne, J – O MP3 como artefato cultural. In: Sá, Simone Pereira de (org.) Rumos da Cultura da Música. Negócios, estéticas, linguagens e audibilidades. Ed. Porto Alegre, Ed Sulina, 2010.
TEXTOS COMPLEMENTARES:
05/07 – Fechamento
Metodologia
As aulas serão ministradas alternadamente pelos professores Fernanda Bruno, Erick Felinto e Simone Pereira de Sá. Conforme previsto no programa, cada professor ficará responsável pela apresentação de uma temática específica, seguida de debate entre os três professores e os alunos.
Para cada aula, um aluno ficará responsável pelo relato e organização das referências bibliográficas mencionadas no dia.


terça-feira, 17 de janeiro de 2012

STOP SOPA
















Os embates pelo controle da Internet seguem fortes em 2012. Dia 18.01.12 é dia de protesto mundial contra o projeto de lei Stop Online Piracy Act (SOPA) - (EUA), que ameaça bloquear, literalmente, a liberdade em vigor na rede. Nesta entrevista, Sergio Amadeu explica o projeto e seu perigo.
O protesto de 18.01.12 é de blackout e o ideal é que sites, coletivos e blogs fiquem fora do ar por 12h. Por falta de competência técnica, não sei se conseguirei tirar este blog do ar, mas registro a adesão ao protesto. Veja como participar no site no Mega Não!

domingo, 8 de janeiro de 2012

Imagem e Resistência: Egito, 2011


[Nota: Este post foi escrito em 03 de fevereiro 2011 e por lapso meu não foi publicado, permanecendo até agora nos "rascunhos". Após ler hoje impressões recentes do Egito no blog do Cezar Migliorin, que acabou de voltar de lá, quis rever este post, flagrei o lapso e finalmente o publico, com atraso ainda maior do que ele já anunciava. Curioso ver como essa impressão, ainda no calor do início da primavera árabe, poderia ser parcialmente reescrita].

Este post chega atrasado, se considerarmos a urgência e relativa velocidade dos protestos e transformações recentes no chamado mundo árabe. Atrasado também em relação à pauta midiática, neste momento dedicada ao terrível terremoto no Japão e ao difícil e violento conflito na Líbia. Mas este post é uma espécie de traço mnemônico, para recuperação  futura, de uma das imagens que mais me comoveram no curso da minha atenção flutuante pelo turbilhão de fotografias e vídeos das mais diversas proveniências que circularam sobre o tema desde que o levante na Tunísia começou. Suponho que muitos viram esta emblemática imagem do recuo das forças policiais frente ao avanço insubordinado da multidão por uma ponte sobre o Nilo no Cairo. Vi imagens semelhantes a essa enquanto seguia os acontecimentos "ao vivo" pela Internet, mas nunca consegui recuperá-las, o que não se deu com essa, que foi veiculada pela CNN, entrando para os arquivos mais facilmente rastreáveis. Enquanto via, ainda ao vivo, a sensação era próxima àquela diante das imagens do atentado de 11 de setembro, 2001. Não pelo que colocavam em jogo, nem pelo que produziam, mas pelo caráter emblemático e tão "obviamente" simbólico dessa imagem de resistência, de inversão das relações de força, de confronto com o poder, evidentemente expostos nos signos que ela condensa - a marcha vitoriosa da multidão, o recuo da força policial, a ponte como limiar, transição, passagem. Um gênero de imagem contra-hermenêutica, pois nada há a interpretar, nenhum sentido oculto ou recolhido. Imagem que força a pensar (e agir) para além dela, em torno, ao lado, depois ou a partir dela, no impulso mesmo do acontecimento que expressa.
Mas curiosamente essa imagem-documento-emblema, que usualmente poderia ser repetida à exaustão pelos meios de comunicação massivos (como as da praça Tien'amen, entre outras), não ganhou tamanha repercussão. Além da relativa discrição com que os meios de comunicação, inclusive diversas redes da Internet, têm tratado os movimentos revolucionários no mundo árabe (o que merece ser seriamente discutido), interessa-me aqui apontar para o quanto uma outra paisagem de imagens políticas está em curso nos últimos anos, sobretudo a partir da popularização de câmeras de vídeo e foto acopladas a dispositivos móveis e conectadas à Internet. Essa paisagem tem muitas faces e dela aponto apenas um aspecto bastante evidente: o declínio da imagem-emblema como centro catalisador necessário da atenção sobre o acontecimento. A mídia de massa nos educou a uma economia atencional em que uma, duas ou três imagens funcionam como eixo icônico que representam um embate ou conflito político qualquer - revoluções, guerras, guerrilhas. Essas imagens constituem uma espécie de repertório relativamente comum do espectador mediano, ainda que, claro, muitas diferenças e singularidades corram sob ou fora dele.
Outra dinâmica de produção, circulação e afetação das imagens está contudo em curso e já há algum tempo vem engendrando outra economia da atenção, não mais focalizada sobre duas ou três imagens "emblemáticas" que acompanham recursivamente informações variadas, mas uma atenção flutuante ou deslizante sobre uma profusão de imagens cujas origens, formatos, motivações, estéticas são extremamente diversos e dinâmicos. Algumas das muitas questões que se impõem: Que lugares de visão, que perspectivas precisam ser inventadas para olharmos essas imagens? Como estar, com elas, in media res? Como nos lembrar delas? Que tipos de arquivos exigem? Qual é o destino dessas imagens e como elas participam da composição de um processo estético-político comum?