Vale ressaltar que o manifesto e as reuniões de discussão da comunidade do Santa Marta sobre a a instalação das câmeras de vigilância no local (ver post anterior) são, que eu saiba, a primeira manifestação de resistência da sociedade civil carioca (e muito provavelmente brasileira) à videovigilância dos espaços públicos. Significativamente, essa manifestação é organizada pelos moradores de uma favela, onde certamente o sentido e a experiência das câmeras de vigilância nas ruas são bastante diferentes daqueles que habitam as ruas das zonas mais abastadas da cidade. No lugar de tomar as câmeras como evidência ou indício de segurança, a comunidade toma as câmeras como objeto de questionamento e faz as perguntas, fundamentais, sobre o desejo dessas câmeras (queremos ou não?) e sobre a que serve esse desejo (quem quer e por quê?). A classe média e as elites, por sua vez, ou ficam inertes ou, quando agem, demandam mais câmeras. A explicação mais imediata é simples: a clase média e as elites não se sentem vigiadas, uma vez que as câmeras estão aí para protegê-las contra a invasão e o "perigo" atribuído às populações pobres, estas sim vigiadas e, não por acaso, insubordinadas, mais capazes de inverter o foco da vigilância e da visibilidade, e colocar o estado e a polícia sob questão. Explicação um tanto óbvia mas verdadeira, ainda que esteja longe de esgotar o problema. Aspectos como o desenho estreitíssimo das ruas da comunidade, bem como da exposição dos interiores das casas aos olhos policiais também mobilizaram as discussões.
Adiciono ao post anterior as dicas generosas da paoleb e do Rodrigo Veleda: vídeos das reuniões no Santa Marta (abaixo) e matéria do Estadão sobre o assunto.
Adiciono ao post anterior as dicas generosas da paoleb e do Rodrigo Veleda: vídeos das reuniões no Santa Marta (abaixo) e matéria do Estadão sobre o assunto.
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