Participei, no dia 19/11/11 de uma mesa no "Café Tecnológico: Arte e Meios Tecnológicos" promovido pelo Sesc Belenzinho. Ocasião para voltar às reflexões sobre estéticas da vigilância, um tema que nunca ocupa plenamente o centro da minha pesquisa, mais por falta de competência do que de interesse. Um tema, contudo, sempre presente. Nesta fala, focalizei sobretudo as zonas de incerteza que habitamos frente ao olhar e a atenção vigilantes hoje. Se a estética disciplinar de vigilância institui uma zona de incerteza quanto à possibilidade de estar sendo visto ou não, a contemporânea institui uma zona de incerteza quanto ao sentido desse olhar e dessa atenção historicamente associados à vigilância. Sentido que transita entre o controle e a liberdade, a segurança e a ameaça, o policial e o libidinal, a suspeita e o cuidado, a inspeção e o entretenimento. Retomei dois trabalhos que operam com essa zona de incerteza, que diferentes modos, e que já me são bastante familiares, uma vez que já foram objeto de textos ou falas anteriores: o vídeo Teoria da Paisagem do Roberto Bellini e o filme Imagens da Prisão do Harun Farocki. Sobre o primeiro vídeo, reproduzo trecho de um pequeno artigo escrito em parceria com Consuelo Lins, e recomendo o ótimo texto do Cezar Migliorin. Sobre o filme do Farocki, não me dedico a ele suficientemente em nenhum texto (salvo num futuro artigo no prelo), ainda que o apresente aqui e acolá em conferências. Em nossa língua portuguesa, uma boa coletânea sobre o trabalho do artista encontra-se no catálogo da mostra Harun Farocki: por uma politização do olhar, disponível para download.
" O diálogo entre o guarda e o artista revela um outro sentido ao ato de olhar e filmar, ausente na paisagem contemplativa e “inocente” que vemos na imagem, mas absolutamente presente no cotidiano das paisagens urbanas e midiáticas. A câmera e, por extensão, o olhar são capturados e reduzidos a um dispositivo de vigilância potencial. Sob suas perguntas e advertências notamos mais uma vez a dificuldade, mencionada anteriormente, em discernir vigias e vigiados. A abordagem do guarda é um sintoma de quanto a função estética da câmera de vídeo é capturada por uma função social, intimamente atrelada à vigilância.