Eis as primeiras notas do curso Cartografia das Controvérsias ministrado por
Bruno Latour na
Sciences Po. Estas notas dão uma idéia geral do curso e do programa no qual ele se insere. Nas notas seguintes passo às minhas impressões e reflexões inspiradas pelas aulas.
Cartografar Controvérsias
Um dos aspectos mais interessantes do curso reside na sua tentativa de "responder" a um problema de extrema atualidade: o da necessidade de criação de dispositivos políticos capazes de potencializar a participação democrática no contexto das novas redes e tecnologias digitais. Uma de suas questões centrais poderia ser - como agir e fazer agir politicamente hoje, utilizando as redes e tecnologias digitais? Diante de uma reconfiguração significativa nos modos produção e circulação de informações (especialmente visível na Internet em sua versão 2.0), é preciso criar dispositivos que potencializem, tanto no âmbito cognitivo, quanto social e político, a participação nos debates e decisões da vida pública. Na ausência da fonte de autoridade que garantia a verdade ou confiabilidade da informação, são as controvérsias mesmas que precisam ser cartografadas. Cartografar controvérsias é portanto uma abordagem ao mesmo tempo teórica, metodológica e política que se inscreve no programa da ANT (Actor Network Theory) e que encontra um terreno fértil nas redes e tecnologias digitais de comunicação distribuída. Conforme aponta Latour no
vídeo de introdução à Cartografia das Controvérsias, o oceano de informações que se produz hoje é tanto o "problema" a ser enfrentado quanto o campo mesmo de sua "solução". As mesmas ferramentas de produção e circulação das controvérsias podem ser apropriadas para cartografá-las. Os alunos do curso devem, assim, utilizar as próprias ferramentas da web para produzir suas cartografias. Neste sentido, a cartografia é também um dispositivo de visualização das controvérsias que permite não só a compreensão de um campo de problemas, mas também a participação política nas questões científicas e tecnológicas.
Visualizar controvérsias
Uma das maiores dificuldades que encontramos hoje na pesquisa de processos que envolvam a web, é desenvolver uma metodologia capaz de dar conta da imensidão e da fluidez dos dados que aí circulam. Cartografar controvérsias constitui, ao meu ver, um potente exercício metodológico para a pesquisa de processos na web. Na proposta do Latour, o foco incide sobre controvérsias no campo das ciências e tecnologias (e há todo um sentido nesta escolha, sobre a qual falo num próxmo post), mas a metodologia pode ser extremamente fértil em outros domínios. No curso da Sciences Po, a etapa de elaboração e disponibilização das cartografias na web é coordenada pelo pesquisador
Tommaso Venturini. Vejam neste
site as cartografias realizadas pelos alunos dos cursos ligados ao projeto MACOSPOL. Sugiro também este
tutorial para a elaboração de cartografias de controvérsias.
Este projeto é extremamente inspirador para pesquisadores na área de comunicação. Recomendo vivamente um percurso pelos links indicados acima.