Uma das tarefas reflexivas e políticas contemporâneas é apreender as transformações nos modos de exercício do controle em nossas sociedades. O livro Le nouveau contrôle social, de Michalis Lianos, é uma das boas coisas que tenho lido a respeito e um dos argumentos mais instigantes do autor é a aliança que hoje se tece entre controle e autonomia, sobretudo no uso dos serviços e contextos institucionais do capitalismo pós-industrial. Num mundo em que os indivíduos participam cada vez mais da dinâmica social como usuários de serviços/instituições, o controle se inscreve nos próprios sistemas sociotécnicos e sociocognitivos: “un contrôle par configuration des contextes d’action, d’interaction ou d’observation, qui établit les termes dans lesquels son sujet, c’est-à-dire son usager, perçoit et comprend ces contextes.” Trata-se de um controle que atua, portanto, menos por precsrição de valores e mordidas na consciência do que pela regulação de contextos de participação, ação e obtenção de resultados nos diversos contextos sociotécnicos por onde circulam os indivíduos. Capacitar a ação, incitar à participação e à interação são as vias privilegiadas do controle: “la particularité du contrôle post-industriel est qu’il exige de l’autonomie en tant que conformité. Ceux qui ne peuvent se constituer en tant que sujet individués et autonomes sont les nouveaux délinquants."
Boas análises e argumentos consistentes, salvo, ao meu ver, por um lamento ou posição que perpassa todo o livro e a crítica que nele se tece: o atual sufocamento das relações intersubjetivas e das interações sociais presenciais que já serviram de base para outros modelos de controle social, os quais parecem aos olhos do autor menos problemáticos. Tenho enorme dificuldade em ver na intersubjetividade ou nas interações presenciais a garantia de um controle mais suave ou mais sujeito a resistências. Tanto estas últimas - as resistências - quanto o controle mais eficaz podem passar pelas reacões intersubjetivas e pelos corpos co-presentes; os suportes importando menos que as relações de força e os modos de ação.PS.: Um bom artigo do autor, disponível na Surveillance & Society: Social Control after Foucault
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