domingo, 12 de julho de 2009

O olhar do outro, a imagem, o ver em comum: notas a partir de M-J. Mondzain


Informei nesse blog a conferência que Marie-José Mondzain fez no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ. Partilho aqui breves notas e pensamentos rápidos mobilizados pela conferência. Um dos pontos ressaltados por Mondzain é a dimensão fundamental, no sentido forte, do olhar do outro na constituição da subjetividade. Ressalta que na ausência do olhar do outro e do espectador, resta a barbárie. A privação de todo olhar é mortal. A atenção a esse ponto me foi cara, pois embora essa seja uma perspectiva bastante familiar e há muito reiterada seja pela filosofia, pela antropologia e pela psicanálise, a intensificação do comércio dos olhares nas indústrias contemporâneas da visibilidade acabou por mobilizar perspectivas que enfatizam a dimensão seja narcísica, seja voyeurística, seja vigilante, seja puramente comercial deste olhar. Realçar o caráter produtivo, criativo e subjetivante do olhar do outro e do homo spectator é, pois, essencial na busca de pistas para resistir ao mercado da troca de olhares que vemos graçar nos ambientes midiáticos, passados e recentes.
Uma pista, fornecida por Mondzain, reside na questão, importantíssima, acerca das possibilidades do ver em comum. De um olhar cujo sujeito não é um eu, mas um nós. Da imagem que dá a ver e a pensar em comum. Mas esse ver em comum não se confunde com o corpo único de espectadores produzido (sempre como ilusão) pelas mídias de massa (e também pela propaganda fascista). A partilha do olhar e pela imagem precisa de tempo, precisa dar tempo. Esse tempo é o necessário para haver palavra, digo, logos. Só se pode ver junto, em comum, o de que se pode falar junto.
Vejo aqui uma trilha aberta e fértil para pensar a profusão de imagens, olhares e falas na paisagem audiovisual contemporânea, das mídias aos ativivsmos e às artes. A ver e pensar.

Um comentário:

paoleb disse...

querida, concluí hoje a oficina de dois dias ministrada no sesc dentro do dança em foco. foi muuuuito bacana e falamos, brevemente, sobre a importância do olhar do outro no processo de constituição da identidade... sim, pensar um nós, je est un autre. bravo. vamos em frente! te agradeço pela partilha do pensamento, amo muito tudo isso.